quinta-feira, 20 de setembro de 2012

As músicas que nos perseguem

Há músicas que só foram feitas para nos perseguir.
Elas não estão ao alcance de qualquer um.
Elas surgem.
Não foram feitas para o carro, o som, o barzinho, o chuveiro ou a pista de dança.
Foram feitas para o inesperado.

As músicas que nos perseguem não são aquelas que grudam.
Aquelas são mais fáceis de tirar de nossas vidas.
Basta encontrar outra.
As músicas que nos perseguem estão em nossas vidas.
Na verdade, elas nunca saem.

Voltam como um soluço.
Sem avisar.
Quando menos se espera, elas estão ali.

São músicas que nos agradam.
E que revelam um pouco de nós.
É como se fossem de nossa autoria.
Estão em nossa alma e carregam um pouco dela.

As músicas que nos perseguem somos nós.
Perdidos pelas ruas.
No caminho daquele que vai desatento.
Na companhia daquele que espera pelo ônibus.
Ou daquele que está impaciente a espera de alguém.

As músicas que nos perseguem estão soltas.
E, de certo, elas não nos perseguem.
Nós é que as perseguimos.



Entre estas músicas que me perseguem estão músicas antigas, anteriores a mim.
Músicas que surgiram comigo.
Músicas que vieram muito depois.
Músicas de artistas conhecidos ou desconhecidos.
Músicas de amigos.
De diferentes estilos.
E as sacras.
Aquelas que ouvia na Igreja.

Entre as últimas, trago uma que há muito não ouço por aí.
Mas que sempre toca aqui.
A me perseguir...

Ela é simples.
Até infantil.
Mas sempre me acompanhou.
E acho que vou sempre persegui-la.

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Estrelas

As estrelas que você
Guarda no fundo do olhar
Só mostre para quem também

Brilha estrelas no olhar
Por entre noites de luar
Azul da cor da paz, do bem

Uma estrela lá no céu
Traçou uma reta para o mar
E o meu pedido fiz a Deus, pedi

Muito mais estrelas lá no céu
E muito mais no coração
De minha irmã, de meu irmão

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Reflexão miscelânica

Caetano Veloso é conhecido em Portugal.
Mas quantos brasileiros conhecem Rui Veloso?
Se perguntar o nome de um ator português que não atue em uma novela da Globo, alguém vai saber?
E argentino? E uruguaio? E angolano?
Brasileiro só ouve kuduro porque está na abertura da novela. E, mesmo assim, um kuduro que veio de um sucesso comercial portorriquenho. Um jabá.

Tenho uma nova página no Facebook, o Miscelânea Rabugenta (propaganda gratuita), que tem por meta divulgar e refletir sobre novos artistas, músicas antigas, diferentes ritmos, culturas ou músicas simplesmente divertidas. Hoje, ao voltar a uma música angolana, me deparei novamente com a reflexão (rasa) sobre o imperialismo cultural.

Todo mundo sabe, debate, reclama, se opõe ao imperialismo cultural americano.
É sabido que o mundo vive há anos uma idolatria da cultura americana. Ou, da cultura de língua inglesa, numa maneira mais abrangente.

Não gosto de levantar bandeiras... Não quero impor gostos ou dizer o que está certo ou errado.
E não acredito que seja apenas por educação que a pessoa goste de rock, em detrimento ao fado, ao tango ou mesmo ao samba. Mas não deixo de ficar incomodado quando esbarro no desinteresse alheio. Quando, mesmo sem conhecer ou saber do que se trata, alguém diz que não quer ouvir determinada música, ver um filme, ler um livro ou conhecer qualquer traço de determinada cultura. É o mesmo que dizer que não se gosta do doce sem nunca ter experimentado (eu sou meio chato pra comida e entendo que o sentimento para quem oferece deve ser o mesmo).

Independente da questão (que não fica apenas no âmbito cultural), o incômodo rabugento de hoje passa pelo risco de nos tornarmos americanos. Sempre tive fascínio pela cultura brasileira e a propago com afinco. Gosto de ver um gringo fascinado com um sambinha, um chorinho, dançando um forró desajeitado, comendo uma carne seca ou falando um bom Tupiniquim. Mas sei também que há de se ter cuidado. Não podemos esquecer do intercâmbio. E não podemos nos furtar do interesse pelo que vem de fora.


Não sabemos nada sobre nossos vizinhos.
Os cômodos vão rebater e dizer que o Brasil é que é excluído do resto da América Latina, por enfrentar a "barreira da língua". Mas o que sabemos dos países que falam português?
Não sabemos nada, não queremos saber. Mas queremos nossa brasilidade pelo mundo... Queremos Gisele nas passarelas, queremos as Havaianas e os biquinis nas praias de Ibiza e queremos ver filmes americanos dirigidos por brasileiros. Queremos a afirmação. E embora todo intelectual critique e sinta-se envergonhado de ser representado internacionalmente por um folhetim, todos dão uma olhadinha na TV quando estão fora do país, pra ver se não tem uma novelinha no ar. No fundo, gostam de se sentir 'em casa'.

Que novelas, filmes, músicas, livros, obras de arte, artistas, comidas, técnicos, esportistas e hábitos sejam exportados. Sou o primeiro a querer vê-los difundidos pelo mundo. Mas que o mundo - que não está apenas na "América" ou em ilhas britânicas -  também chegue ao Brasil. Que o Brasil esteja aberto para o grupo de soul português, para a cantora tradicional de Cabo Verde, para o semba de Angola, o cantor pop maluco da Coreia e o cinema premiado da Argentina. Que a miscelânea cultural possa abrir a cabeça dos brasileiros e que o mundo possa entender melhor o Brasil. E que as lágrimas de nosso orgulho exacerbado não embaçem nosso olhar... Como acontece por aí.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

31 coisas para se fazer no Rio...

31 coisas para se fazer no Rio de Janeiro...
Quando você é realista, não tem dinheiro, não é turista ou não pertence ao mainstream:

1 - Passear pelo engarrafamento do Jardim Botânico;
2 - Ver asas-delta saltando da Pedra Bonita e dizer pra si que um dia você vai ter coragem;
3 - Tomar uns chopes no botecão de qualquer Luiz;
4 - Comer queijo coalho na Feira de São Cristóvão (tendo plena certeza de que bom mesmo era antigamente, quando você não precisava pagar pra entrar - afinal, um real já complementa na conta);
5 - Levar uma criança na porta do Planetário (e deixá-la por lá);
6 - Beber cachaça em casa, na pré-night, com o dinheiro que economizou não indo pra Academia;
7 - Ver muitas pessoas no Jobi, enquanto come no Koni;
8 - Passar a tarde no Paço Imperial... Em dia de semana, enquanto prolonga a hora do almoço;
9 - Assistir a um Fla-Flu... no Engenhão;
10 - Não perder dinheiro comendo casquinha de siri no Rio e nem tempo indo pra Prainha (sim, é linda, mas é longe);
11 - Desenhar o Arpoador na tatoo feita em uma galeria qualquer de Copacabana;
12 - Comer biscoito Globo na Central e imaginar que está no Leblon;
13 - Pedalar com bicicleta do Itaú pela Lagoa;
14 - Sábado, esperando por mesa nA Cobal;
15 - Saber que existe o Real Gabinete;
16 - Passar pela porta do Cecília Meirelles naquela noitada da Lapa;
17 - Relaxar no trânsito da frente do Parque Lage;
18 - Achar muito brega quem tem um prato com foto no Pão-de-Açúcar;
19 - Olhar os hotéis e o Corcovado (no trânsito);
20 - Ir à fila de uma exposição do MAM (porque nessa tá todo mundo indo, então eu vou também);
21 - Ver o Mosteiro de São Bento (em fotos);
22 - Dar uma batida na porta do Osvaldo;
23 - Não saber que o Municipal abre aos domingos;
24 - Ver a cabeça gigante de Getúlio no Catete (e achar que o obelisco de Ipanema era até bonito);
25 - Ter plena consciência de que baiano faz muqueca e de que tem mais o que se comer no Rio;
26 - Passar o Ano Novo na praia de Copacabana, enfrentar o caos do trânsito (pior do que do Jardim Botânico, do Parque Lage etc), ficar com torcicolo e dizer "que bonito, valeu pela experiência, mas ano que vem eu vejo de casa mesmo...";
27 - Ir à Colombo no Centro e lembrar que tinha 20 anos que você não ia lá;
28 - Achar que Chácara do Céu é apenas uma referência em um funk antigo da década de 90;
29 - Pensar na carne de sol de Santa Teresa., mas lembrar que o bonde caiu e que você não quer subir de van;
30 - Ir até a Glória e ver bem de longe a Igreja de Nossa Senhora;
31 - Assistir ao pôr do Sol na praia de Ipanema, aplaudir e depois se achar muito carioca, muito privilegiado, mas enfrentar um dobrado pra voltar pra casa.

Ah... E tem a 32a.
Não apoiar o César Maia!

OBS: Essa é uma resposta a este post aqui...