quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Medo de quem? (Ou desassalto)


Acabo de passar por uma situação que me deixou mais do que reflexivo...
Culpado, aliviado, esperançoso.
Não sei ao certo...

Estudo à noite perto da Candelária, no Centro do Rio.
A área não é lá muito segura...
Mas com a saída dos cursos, a gente consegue pegar ônibus na Av. Presidente Vargas sem tanto medo.

Hoje, mesmo com uma certa enxaqueca, deixei me levar e fui socializar com professor e outros alunos num bar da região...
A hora acabou avançando um pouco e, no momento de voltar pra casa, fui receoso para o ponto de ônibus.
Circulei o ponto deserto e fiquei meio agoniado com a espera.

Vale dizer - pra quem não é da cidade: as empresas de ônibus do Rio, além de cobrarem caro por um serviço mal feito, deixam o horário das 22 horas às 06 horas para os táxis. Transporte público depois das 23 horas, só à base de muita reza.

Eis que, no auge da apreensão, avisto um pré-adolescente magro, descabelado, descalço, com um aspecto realmente deplorável, vindo em minha direção...
- Um pivete... Fo-deu - pensei.

É claro que o medo é o pior inimigo da vítima e o garoto viu que eu era um alvo fácil. Veio ziguezagueando em minha direção (porque eu tentava me esconder por trás do ponto).

A abordagem foi direta. "- Fortalece aí..."
Eu fui dizendo que só tinha a passagem, que estava na minha mão... Que não teria dinheiro pra voltar pra casa. Ele insistiu. Levantou a camisa e mostrou algo, que não dava pra dizer o que era...
Eu entreguei o dinheiro, rabugentamente (até nessa hora, eu reclamei).

Comecei a andar na direção da Av. Rio Branco.
Um caminhão de lixo vinha na direção contrária e o motorista fez uma expressão de "não tive como fazer nada... mas que chato... Foi mal aí!".

Neste momento, dois moradores de rua vieram na minha direção.
Não sabia no que pensar: ajuda, fofoca ou mais violência?
Um dos moradores foi direto: Pode voltar tranquilo, que você vai pegar o ônibus aqui mesmo. A gente mora ali embaixo... Pode voltar!

As ordens continuavam suspeitas.
Fiquei sem saber o que fazer...
Um dos homens foi na direção do garoto, que continuava parado, enquanto o outro insistia para que eu voltasse.
Parei. Ouvi mais pedidos. Comecei a voltar...

Nesse momento, meu ônibus passou.
Aliviado, eu já pensava que, se eles eram mesmo uma ajuda, mereciam ficar com aquele dinheiro... Subi no ônibus, agradecendo de longe ao homem que veio a minha direção.
Antes do ônibus partir, o outro homem - que havia seguido na direção do garoto - veio rápido, pedindo pro motorista não fechar a porta... Vinha com o meu dinheiro na mão. Eu ainda mandei um "deixa pra lá", mas ele insistiu para que eu pegasse o dinheiro de volta.

O cobrador do ônibus ainda me perguntou o que acontecera e eu, rapidamente, expliquei. Ele, assim como eu, não acreditou.

No fim, não perdi nada.
E ganhei a certeza de que nem tudo está perdido.

É claro que aqueles homens querem manter a segurança do local pra terem o direito de continuar ali... E de não serem confundidos com bandidos.
Mas a honestidade do ato foi tocante.
Primeiro, porque fez lembrar que a garantia de segurança não vem mais do Estado.
Segundo, porque fez novamente escancarar o quanto é pequeno o rico que rouba.
Terceiro, reafirmou a máxima do "um livro não se julga pela capa".

Fiquei com vontade de fazer mais por essas pessoas...
Mostrar que elas podem ser mais.
Que elas também podem ser exemplo.
E dar o que elas realmente precisam.
Não a comida e o cobertor.
Não R$ 2,50.
Não o peixe...
Mas o como pescar.

Parece lugar comum, mas hoje vi, mais uma vez, que não é.