quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Ecos de Maniqueu e as razões da continuidade

Pois é.. Mais uma vez tenho que usar isso:
O mundo não acabou.

E eis que o Papa renuncia. Piadas são feitas, defesas também. E muitos esperam que você faça a sua piada ou a sua defesa. E eis que o mesmo mundo espera que você tenha um posicionamento certo quanto à famigerada Yoani Sanchéz. Afinal, a sua moral também será julgada pelo seu posicionamento. E lembre-se: posicionamento não é apenas ter uma ideologia, uma religião e dar a cara a tapa. Não é mostrar o que ou como você vê. Posicionamento é levar a ofensa pra casa, desprezar o outro lado e jogar pedra até que o outro lado veja que a verdade está com você. Destrua a imagem do Papa por seus dogmas e suas convicções ou mostre seu amor por Deus e o defenda cegamente. Odeie e menospreze os de extrema esquerda ou linche a oportunista e mostre que você é realmente um revolucionário.

E eis que você lê o triste relato da morte em vida de Carlos Alexandre Azevedo (clique aqui), feito por Luciano Martins Costa e publicado por Juca Kfouri no blog do Uol. Uma vítima de um período de terror, cuja vida dá uma resposta a quem questiona as indenizações a torturados do período militar.

E daí você descobre que - já há um tempo - uma jovem de 23 anos e um grupo de 144 pessoas querem reerguer a direita através de um partido que levará o mesmo nome do 'partido militar' (clique aqui), com a justificativa de que o horror não veio do partido, mas das pessoas que controlavam o Estado (como se houvesse meio de desassociar uma coisa da outra). E a mesma jovem fala do velho e bom saldo positivo, o desenvolvimento. E afirma que foi bom, porque o país precisava de uma "sacudida".

E aí você se toca que o mundo tá muito longe de acabar.
Deveria... Mas não vai.
Porque a gente ainda precisa de muito tempo pra aprender alguma coisa.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Entre as musas

Eu era infância
De unha cravada no rosto
E bicho de pé
Sem a menor ideia do que era ser
Ou pertencer
E eis que surge a tal Betty
A dizer que era ali o tempo do encontro entre Eva e Adão
Ali seria a primeira paixão
A Radioatividade que me fez mais sadio
Inteiro, entregue, em nada arredio
De Guadalupe me partiu
A primeira me caiu como um relâmpago

E veio a outra, em menos de um mês
Talvez
Como saber, se a Bete chegou
De tom forte e grafia alternada
E de fria fez-se madrugada
Um ponto mais livre, meu fraco
De passo e compasso
Um movimento de palavras que me fez entender
Que a hora da Sessão Coruja adoça e faz viver
Era mais que tédio, sono, era imersão
A segunda foi a cor de predileção

Outras vieram por muitas vidas
Michelles agudas e enlouquecidas
Eram mentiras em corpo de atriz
E bailarinas procurando bem
Como rosas a me conduzir ao altar
Morenas que esperavam sem rima
Damas e estrelas em lugares comuns
E eu, coração que percorreu mundos
De loucas Marias em gemidos profundos

Meninas que não queriam ter que esperar
Com faca nos olhos, queriam dançar
Namoradas no cais, a aportar
Em aposta de par, davam chance ao azar
Toda previsão, um destino que ainda atormenta
De Sol com a cabeça na Lua
E na estrela que não se importa com o resto
Com a falta de luz nos olhos
Ou a que, sem sentido, só quer conversar
E como prova de amizade
Leva embora o sonho de amor na janela
O foco e a luz, nus, a folha do sexo
E tudo que não tenho
Deixando das lágrimas no copo o reflexo

Hoje tem um fusca estacionado na minha porta
E uma tal Joana que insiste que é minha dona
Ela não sabe da Juliana
A carta na manga
Ou da outra, com gosto de pitanga
E das outras feitas por outros
Solventes prum mundo mais que puro
Que curto, à toa

Ela não sabe a verdade
Ela não escuta
Não quer entender
Que na cama da musa
Eu virei puta.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Em choque com a nova ordem da noite

Matriz, Casa Rosa, Sacrilégio, Carioca da Gema, Nuth, 00, Fosfobox... São muitos nomes.
E agora o Teatro Odisseia também fechou as portas.

- Ah, esses donos de bares e boates... São todos uns irresponsáveis!
-  Sim... O pior é que eles jogam com a vida das pessoas!
- Pois é. E só pensam em ganhar em cima! Mercenários!

Engraçado ouvir e ler isso, dentro e fora das redes sociais, de pessoas que, há duas semanas, simplesmente não se importavam. Pessoas que, há duas semanas, gastavam tudo em uma só noite de diversão. Que não reclamavam muito de preços e achavam ótimo a boate cheia. Casa lotada só era ruim quando elas estavam de fora.

Depois que a Kiss pegou fogo, todos viraram responsáveis.
Todos concordam que a vida é mais.
Que o perigo é iminente em todos os lugares.
Que o certo é prevenir.

Não estou aqui para justificar irregularidades ou afirmar que as normas devam ser descumpridas... Pelo contrário. Afinal, quem quer rir, tem que fazer rir. Se o investidor escolheu este negócio, caro e instável, tem que seguir as regras do jogo. Mas o moralismo que paira em certos discursos chega a ser infantil de tão hipócrita.

No fundo, todos dão graças a Deus do 'choque de ordem da Night' ou a 'patrulha das baladas' estar acontecendo perto do Carnaval, época em que os blocos estão na ativa e a folia é garantida nas ruas. Todos, no fundo, esperam que logo depois do Carnaval a poeira já tenha baixado. Afinal, tem o aniversário, a volta às aulas, a celebração com os amigos do novo curso ou a necessidade de conhecer a pessoa certa e começar o novo namoro, depois da semana de pegação geral.


Não, não sou a favor deste choque de ordem repentino.
E não é apenas porque sou rabugento.
A verdade é que ele representa a ação desesperada de autoridades que não cumprem deveres e, no primeiro sinal de polêmica pública, incitada pelos meios de comunicação, optam pelo radicalismo para mostrar o serviço que não prestaram até então. É o esconder a poeira pra baixo do tapete. Vai que um jornalista investigativo queira fama e apareça de surpresa para fiscalizar - numa inversão de papéis - aquela boate sem alvará? Ou aquela que está funcionando há anos sem saída de incêndio?
É a ação de um governo que, propositalmente, fecha os olhos para que as casas existam, o turista se divirta, o cliente gaste, o dinheiro circule e as cidades, de maneira torta, prosperem. Autoridades que sabem que a burocracia é grande, as adequações são muitas e, ao invés de agilizar processos ou colaborar para o cumprimento, preferem não atrapalhar, não tomar parte ou fingir que não sabiam.

E no fim, o que realmente sobra é isso aí...
O mercado antes estimulado, agora é punido.
A autoridade que fez errado, impõe o certo a qualquer custo, sem medidas paulatinas. Esta, é claro, não paga por nada, porque o dela está garantido pelos impostos.
O dono do espaço, pouco ou muito irregular, fez errado e fica com parte considerável do prejuízo.
Mas quem realmente paga o pato é o resto do mercado.
São produtores de festas, divulgadores, DJs, fotógrafos, recepcionistas e todos que realmente dependem da rede para sobreviver (não aqueles que fazem para ganhar um extra). Todos que brigarão pelos espaços que não foram fechados para poder pagar as contas. Todos que tiveram que se virar, que serviram a muitos enquanto foram necessários, e agora não formam uma classe e estão ameaçados pela falta de trabalho. E, ao fim, ainda são obrigados a ouvir a concordância daqueles que outrora se divertiram. Um 'bem-feito' por uma punição da qual eles são as maiores vítimas.

O que resta a este rabugento, que não forma opinião e não tem autoridade, é desejar sorte e mais oportunidade aos amigos que estão neste barco.
Que a tempestade realmente passe logo.

E a todos que hoje dão exemplo de responsabilidade... Não esqueçam de beber com moderação, deixar o guarda multar, estacionar na vaga certa, comprar o dvd original, o cd oficial, ver a série pela TV, pagar a inteira do espetáculo, não furar nenhuma fila e usar o banheiro químico neste Carnaval!

OBS: Não entrei no mérito teatro e afins... Até porque, a maioria dos teatro e espaços culturais fechados são da Prefeitura, o que só atesta onde mora boa parte do problema.