sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Por que rabugento?

Você fica uma hora dentro de um ônibus, sem muito o que fazer. Na sua frente, apenas a TV do ônibus... A programação é pior do que a da TV aberta, justamente porque traz as sinopses das novelas da TV aberta. E eis que você descobre que o grande e único conflito da novela Carrossel é que o pobre Jaime será obrigado a tocar gaita na banda da escola (Mais ações? Ele corre pra diretoria e liga pro pai, para dizer que está sendo obrigado a isso).

Logo depois, você lê: "Sagitário: Evite reprimir as emoções, o bom é ser feliz, mesmo que se fique emotivo." Do que ele tá falando? Sagitariano, se você liberar suas emoções, você ficará... Emotivo? E assim você estará feliz. Mesmo que essa emoção seja, sei lá, angústia. Porque você será feliz por não reprimir essa angústia. Por viver angustiado. E por que diabos eu estou pensando nisso? Eu nem sou sagitariano...

Você pensa no infeliz que é obrigado a inventar esses textos e simplesmente não tem criatividade. E que provavelmente acha que está indo muito bem. E você segue lendo coisas piores (terá muito sentimentalismo, ouça as pessoas porque elas querem ser ouvidas) e no final você se pergunta: será que as pessoas têm razão de te chamar de rabugento, como se você não tivesse motivos para ser assim?

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Saudades de um tempo...

...Em que se podia ir e voltar de ônibus com menos dinheiro do que se paga hoje apenas para ir.
Em que, com (um pouco mais do que) o dinheiro de ir e voltar de hoje, se podia ver um filme no cinema.
Em que, com o dinheiro do cinema de hoje, se podia ir a uma festa.
Em que, com o dinheiro da festa de hoje, se podia ir ao teatro ou a um show nacional.
Em que, com o dinheiro do show nacional ou da peça mais simples de hoje, se podia pagar um Reveillon ou ir a uma mega-produção.
Em que, com o dinheiro da peça musical ou da festinha sofisticada de hoje, se podia ir ao mega-evento, com diversas atrações internacionais.
Em que, com o dinheiro do mega-evento de hoje, se podia viajar.
Em que, com o dinheiro da viagem de hoje, se podia pagar o aluguel e o condomínio.
Em que, com o dinheiro do aluguel de hoje, se podia fazer tudo.

E o mais engraçado é que esse tempo não faz muito tempo.
Tem uma década, mais ou menos.

Uns justificam pela inflação. Como se ainda fossem fiscais do Sarney.
Os mais otimistas dizem que o Brasil melhorou.
E que tudo é para acompanhar o ritmo de crescimento.
Mas a verdade é que tem muita gente querendo "crescer mais" do que o normal.
E a maioria das pessoas perdeu noção de valor.

Eu continuo sentindo saudades daquele tempo.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

The Dreamer

The dreamer - A (não tão) breve história de um sonhador acordado

Era uma vez um jovem que partiu atrás de um sonho.
O jovem escolheu uma estrada e, ao longo dela, seguiu batendo em diversas portas.
Ele se apresentava de uma a uma, se autointitulando sonhador.
Ele era assim, meio ingênuo e meio petulante, como todo aquele que tem um ideal.
E foi essa combinação que fez com que um grupo de sonhadores acreditassem nele.

Aqueles sonhadores tinham um sonho próprio.
Um sonho ainda inicial, mas um pouco mais perto da realidade.
Mesmo sem muito chão, eles queriam ver até onde ia o sonhador.
E o jovem sonhador, então, se juntou àqueles sonhadores e começaram a moldar um sonho maior.

Logo que começou a se adaptar ao sonho, o sonhador teve que acordar.
Porque com o tempo todos viram que o sonho, apesar de grande, não comportava tantos sonhadores.
E foi com o gosto na boca que o sonhador teve que sair do sonho e lidar com a realidade.

No abraço abrupto da realidade, o sonhador realmente despertou.
E foi um pouco sem ar que o sonhador teve que conhecer de perto um tipo bem diferente: a pessoa acordada.
Pessoas acordadas eram estranhas.
Porque pessoas acordadas eram diretas.
Umas eram práticas demais, ao ponto de ignorar sonhadores.

Outras eram mais inteligentes e sabiam que até os sonhadores mais intensos tinham outros valores.
E ao se deparar com a realidade dos valores, o sonhador viu que o mundo acordado não era tão mal.

Assim, o sonhador reconheceu novas limitações e ousadias.
E percebeu que, no fundo, todos os que viviam acordados eram sonhadores.
Uns mais, outros menos.
Mas todos estavam a espera de um sonho.
A única diferença estava na substância de cada sonho.

O sonhador, então, se permitiu ser uma pessoa acordada e viver outra vida.
E por muito tempo essa vida esqueceu o lado sonhador e virou só uma vida acordada.
Mas sonhador é sonhador.
E por mais que finja, a essência sempre volta.
E foi num desses dias inesperados, entre um trabalho cansativo e uma noite de sono leve, que o sonho chamou.
O sonhador perdeu o sono...
E percebeu que era hora de voltar.

Foi ali que, sem escapar da realidade, o sonhador deixou o dia-a-dia de uma pessoa acordada.
Fez um curso para sonhadores profissionais, construiu pequenos e diferentes sonhos e conseguiu um ou outro meio de segurar a realidade.


Hoje, o outrora jovem sonhador está numa nova estrada, em busca daquele caminho que seja mais do que um simples sonho.
E ele bate na porta de pessoas que são sonhadoras, acordadas e reais para conseguir ser aquilo que todo mundo realmente quer ser: um sonhador acordado.