quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Eu, Ringo Starr

Antes que o mundo acabe...
Conseguimos colocar no ar o clipe do Criadores de Acaso.
O segundo... Seguindo a sombra dA Folha, da Polivalente Filmes.

O clipe foi feito de forma mais do que independente.
A proposta era mesmo a câmera na mão e a ideia na cabeça.
Sem verba, os 4 rapazes da Despedida em Liverpool fizeram de tudo.
Argumento, Roteiro, Produção, Fotografia, Arte, Figurino...

Os cabeças do projeto foram mesmo os Criadores de Acaso.
Incansáveis, eles tinham ideias e queriam realizá-las.
A gente dava outras ideias e eles também queriam realizá-las.
E os dois encarnaram então os papéis dos Beatles ditos principais:
Crof era Lennon, Augusto era Paul.
E assim foi também durante o clipe...

A direção foi de Marcus Percinoto, nosso George Harrison.
Entre a função de pai recém-nascido, fiscal da aviação e diretor de seus próprios projetos, ele encontrou um tempo precioso para se deliciar.
Zen, ele também teve paciência para montar o clipe e ouvir todas as opiniões conflitantes.

Nessa empreitada, fiquei com o honroso papel de Ringo Starr.
O quarto... Aquele que fica lá atrás, dando o suporte.
E que não deixa a peteca cair.

Foi bom ajudar nesse passo.
Que a estrada siga pros Criadores.

Aos fãs de Beatles e Bob Dylan, eis aí o resultado.
O clipe é uma grande junção de referências.
Pode não estar perfeito.
Pode não agradar aos mais exigentes.
Mas vale a homenagem.
(A música original é parceria de Alexandre Crof com Mário 'George Martin' Barroso).

Clique no Ringo e veja o clipe!


Ao fim, vale deixar aquelas palavras do Ulysses Machado, na esperança de que - se o mundo não acabar - eu consiga realmente ser mais Ringo Starr:

“ O maior homem representante da paz não foi John Lennon, que fez um protesto na cama com Yoko Ono contra a guerra do Vietnã.

O maior homem representante da paz não foi George Harrison, que fez um show com sua banda e reverteu a renda em beneficio dos pobres.

O maior homem representante da paz não foi Paul McCartney, que fez lindas canções de amor.

O maior homem representante da paz foi Ringo Starr, que nunca odiou nenhum dos outros três, ou melhor, nenhum dos outros quatro Beatles.”

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Antes que o mundo acabe

Antes que o mundo acabe revi Antes que o mundo acabe.
E foi aí que me dei conta de que no dia 21 de dezembro muita coisa pode acontecer...

O último dia não precisa ser o fim da existência de todas as coisas.
Mas o fim da existência de coisas que podem fazer diferença para o mundo.
Diferenças que tornam o mundo um lugar diferente.

O fim do mundo pode ser nada mais do que o fim de um mundo diferente e o começo de um mundo igual... Onde semelhantes se tornam cada vez mais semelhantes.
No dia 21, pode acabar a última coisa intocada do mundo.
O último canto não explorado.
O último ponto sem rede de comunicação.
O último lugar com pessoas sem acesso a algodão, sapato ou pasta dental.
O último lugar sem pessoas.

E aí restaremos nós, em todos os lugares.
Nós, que somos diferentes uns dos outros, mas que no fundo vivemos uma vida igual.
Ou, embora encaremos o mundo de formas diferentes, vivemos em um mundo igual.

Estaremos lá para contar as velhas histórias.
Que serão diferentes das velhas histórias que ouvimos quando tudo para nós era novo.
Porque aquelas ainda eram contadas em um mundo onde poderia existir uma pessoa ou um canto do mundo intocados.
Nossas histórias serão velhas histórias de pessoas de um mundo onde tudo era diferente, contadas num mundo onde todo mundo é igual.

E o que veremos a partir de agora é mais e mais pessoas tentando ser diferentes.
Pessoas que usam turbantes sem pertecer a uma cultura que realmente use turbante. Que usam apenas pela ancestralidade. E que, no fundo, estão seguindo a moda dos que usam turbante por uma ancestralidade.
Pessoas que se sentem importantes por renegar tudo que é dito civilizado... E que não se dão conta de que o renegar já é ser tocado pelo mundo civilizado.
Pessoas que se transformam para serem diferentes e, no final, não percebem que são exatamente iguais a dezenas, centenas, milhares de outras pessoas que se transformam para serem diferentes. Às vezes, iguais às pessoas das quais querem se diferenciar.

E é nesse novo mundo que vamos seguir... Onde todo diferente luta por igualdade, mas no fundo sente falta de ser diferente. Um mundo em busca de identidade. Talvez, perdida em um mundo passado. Um mundo que acabou.

Pensando bem... Talvez o mundo já tenha acabado.
E a gente não tenha se dado conta.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

No fim, uma canção

No fim do mundo, haverá uma canção.
Um videokê. Um encontro, com voz e violão.
E cada um terá que escolher um repertório
Para sua redenção.

No cardápio, uma época em questão
Bandas de uma década perdida
Embalando a festa da finalização

Uns vão pedir Titãs, Ira, Biquini Cavadão.
Outros vão com Paralamas, Kid Abelha, Legião.
Eu, por discurso e reinvenção
Ficarei com Barão.
(Quando vi que o texto abusava do ão, rimei até poder mais não).
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"Nada sei
Apenas vivo a perambular
Uns trabalham por dinheiro
Outros por livre e espontânea vontade

Eu trabalho para o nada
Espalhado pelo chão
Sou solidão a dançar
Com a lingua no formigueiro

Ando, ando, ando, ando, sem parar
Na poeira dos fatos, nas transparências

Viver, é fúria e folia
Rumo ao mágico"

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Nordeste Já!

Em 1985, o Brasil entrou na onda do USA for Africa.
Nem todo mundo lembra (eu não lembrava), mas uma campanha foi feita para angariar fundos para a população carente do Nordeste.
Era o Nordeste Já!
 
Nos mesmo moldes do irmão americano, o projeto teve coro de artistas consagrados, teve vídeo e teve compacto. Duas músicas foram produzidas. A primeira, de autoria coletiva, era o carro-chefe e trouxe o coro maior. Misturou o Grande Encontro com os Doces Bárbaros, os Novos Baianos, o Clube da Esquina etc. No fim, teve muita gente que realmente só teve voz em coro e emprestou a imagem para fazer a verdadeira 'Festa da música Tupiniquim'.



A segunda, foi uma criação coletiva em cima de um poema de Patativa do Assaré.
A meu ver, o objetivo dessa era trazer artistas mais "Lado B". Em todo caso, trouxe Gonzagão, João do Vale, o que daria mais credibilidade para a música. Cá entre nós, a música ficou bem melhor.


Pode se encarar um pouco como um deslumbramento, um oportunismo.
Antes de 'We are the World', ninguém teve essa ideia.
Mas achei a iniciativa, mesmo um tanto assistencialista, válida.
Só não sei se deu certo...
Pela pouca lembrança, acho que não.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Por que rabugento?

Você fica uma hora dentro de um ônibus, sem muito o que fazer. Na sua frente, apenas a TV do ônibus... A programação é pior do que a da TV aberta, justamente porque traz as sinopses das novelas da TV aberta. E eis que você descobre que o grande e único conflito da novela Carrossel é que o pobre Jaime será obrigado a tocar gaita na banda da escola (Mais ações? Ele corre pra diretoria e liga pro pai, para dizer que está sendo obrigado a isso).

Logo depois, você lê: "Sagitário: Evite reprimir as emoções, o bom é ser feliz, mesmo que se fique emotivo." Do que ele tá falando? Sagitariano, se você liberar suas emoções, você ficará... Emotivo? E assim você estará feliz. Mesmo que essa emoção seja, sei lá, angústia. Porque você será feliz por não reprimir essa angústia. Por viver angustiado. E por que diabos eu estou pensando nisso? Eu nem sou sagitariano...

Você pensa no infeliz que é obrigado a inventar esses textos e simplesmente não tem criatividade. E que provavelmente acha que está indo muito bem. E você segue lendo coisas piores (terá muito sentimentalismo, ouça as pessoas porque elas querem ser ouvidas) e no final você se pergunta: será que as pessoas têm razão de te chamar de rabugento, como se você não tivesse motivos para ser assim?

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Saudades de um tempo...

...Em que se podia ir e voltar de ônibus com menos dinheiro do que se paga hoje apenas para ir.
Em que, com (um pouco mais do que) o dinheiro de ir e voltar de hoje, se podia ver um filme no cinema.
Em que, com o dinheiro do cinema de hoje, se podia ir a uma festa.
Em que, com o dinheiro da festa de hoje, se podia ir ao teatro ou a um show nacional.
Em que, com o dinheiro do show nacional ou da peça mais simples de hoje, se podia pagar um Reveillon ou ir a uma mega-produção.
Em que, com o dinheiro da peça musical ou da festinha sofisticada de hoje, se podia ir ao mega-evento, com diversas atrações internacionais.
Em que, com o dinheiro do mega-evento de hoje, se podia viajar.
Em que, com o dinheiro da viagem de hoje, se podia pagar o aluguel e o condomínio.
Em que, com o dinheiro do aluguel de hoje, se podia fazer tudo.

E o mais engraçado é que esse tempo não faz muito tempo.
Tem uma década, mais ou menos.

Uns justificam pela inflação. Como se ainda fossem fiscais do Sarney.
Os mais otimistas dizem que o Brasil melhorou.
E que tudo é para acompanhar o ritmo de crescimento.
Mas a verdade é que tem muita gente querendo "crescer mais" do que o normal.
E a maioria das pessoas perdeu noção de valor.

Eu continuo sentindo saudades daquele tempo.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

The Dreamer

The dreamer - A (não tão) breve história de um sonhador acordado

Era uma vez um jovem que partiu atrás de um sonho.
O jovem escolheu uma estrada e, ao longo dela, seguiu batendo em diversas portas.
Ele se apresentava de uma a uma, se autointitulando sonhador.
Ele era assim, meio ingênuo e meio petulante, como todo aquele que tem um ideal.
E foi essa combinação que fez com que um grupo de sonhadores acreditassem nele.

Aqueles sonhadores tinham um sonho próprio.
Um sonho ainda inicial, mas um pouco mais perto da realidade.
Mesmo sem muito chão, eles queriam ver até onde ia o sonhador.
E o jovem sonhador, então, se juntou àqueles sonhadores e começaram a moldar um sonho maior.

Logo que começou a se adaptar ao sonho, o sonhador teve que acordar.
Porque com o tempo todos viram que o sonho, apesar de grande, não comportava tantos sonhadores.
E foi com o gosto na boca que o sonhador teve que sair do sonho e lidar com a realidade.

No abraço abrupto da realidade, o sonhador realmente despertou.
E foi um pouco sem ar que o sonhador teve que conhecer de perto um tipo bem diferente: a pessoa acordada.
Pessoas acordadas eram estranhas.
Porque pessoas acordadas eram diretas.
Umas eram práticas demais, ao ponto de ignorar sonhadores.

Outras eram mais inteligentes e sabiam que até os sonhadores mais intensos tinham outros valores.
E ao se deparar com a realidade dos valores, o sonhador viu que o mundo acordado não era tão mal.

Assim, o sonhador reconheceu novas limitações e ousadias.
E percebeu que, no fundo, todos os que viviam acordados eram sonhadores.
Uns mais, outros menos.
Mas todos estavam a espera de um sonho.
A única diferença estava na substância de cada sonho.

O sonhador, então, se permitiu ser uma pessoa acordada e viver outra vida.
E por muito tempo essa vida esqueceu o lado sonhador e virou só uma vida acordada.
Mas sonhador é sonhador.
E por mais que finja, a essência sempre volta.
E foi num desses dias inesperados, entre um trabalho cansativo e uma noite de sono leve, que o sonho chamou.
O sonhador perdeu o sono...
E percebeu que era hora de voltar.

Foi ali que, sem escapar da realidade, o sonhador deixou o dia-a-dia de uma pessoa acordada.
Fez um curso para sonhadores profissionais, construiu pequenos e diferentes sonhos e conseguiu um ou outro meio de segurar a realidade.


Hoje, o outrora jovem sonhador está numa nova estrada, em busca daquele caminho que seja mais do que um simples sonho.
E ele bate na porta de pessoas que são sonhadoras, acordadas e reais para conseguir ser aquilo que todo mundo realmente quer ser: um sonhador acordado.



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Bruno Bloch tem alguma razão

Eu tinha feito este texto pra entrar há quase um mês.
No começo do Festival do Rio... Lá pro dia 05.
Mas fiquei enrolado e esqueci de postar.
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Marcos Bernstein é roteirista de filmes como ‘Central do Brasil’, ‘Chico Xavier’, ‘Terra Estrangeira’ e ‘Zuzu Angel’. Ele também é roteirista e diretor de filmes como ‘O outro lado da rua’ e da nova versão de ‘Meu pé de laranja lima’, que assisti nesta segunda-feira, no Festival do Rio (vide post anterior). 



Não conhecia a história. Nunca li o livro, nunca vi nenhuma adaptação pra TV ou Cinema. O filme é bem dirigido, bem roteirizado e traz mais um ator-mirim digno de prêmio. Fui procurar referências anteriores e vi que foram feitas três novelas da história.

Há duas semanas, assisti a uma palestra com Bernstein na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Dentre as revelações de trajetória, o fato de estar hoje na TV e de ter escrito com Lícia Manzo a novela A Vida da Gente - que contou também com o talento da promissora Giovana Moraes (eu, um bajulador).

Bruno Bloch é amigo e também é roteirista.
Profundo conhecedor e defensor de séries televisivas, Bruno é do tipo que não gosta de telenovela. Embora a palestra citada acima comprove que, para viver de ficção no Brasil, o autor deve cogitar a possibilidade de escrever uma, não culpo o Bruno por isso. Escrever novela pode interessar pela mudança dos rumos pensados para a história, por poder surpreender o público, além de dar a certeza de que o seu trabalho está sendo visto em escala nacional. No entanto, existem coisas em novelas que são bem difíceis de fazer (e de engolir). Pelas limitações de produção e tempo, por mais genial que seja, o autor não consegue fugir de certas armadilhas... E pra quem está do outro lado da rua, ‘a armadilha é certeira’.

Vamos listar alguns destes incômodos ‘novelísticos’, pra ver o que sai:
1- Os trocadilhos e frases feitas são usados com exaustão (máxima Blochniana). Sempre tem um “Você me paga”, um “Ah, você não me conhece...” ou um “Eu vou acabar com a sua raça”.  Além, é claro, daquelas frases de pára-choque de caminhão.

2 – Falas explicativas – Quando não se pode mostrar o passado ou o que ainda está por vir, um personagem terá que explicar. Isso é limitador, mas não chega a ser o pior. O pior é quando a coisa foi ou será mostrada, mas, mesmo assim, o personagem explica. É o mutante da novela dizendo para a vítima como e por que vai acabar com a raça da vítima segundos antes de efetivamente acabar com a raça da vítima.

3 - Falas explicativas de apresentação de personagem – Um pouco mais específico. Um personagem entra para falar do passado ou das características de um segundo personagem. Geralmente, o primeiro fala com um terceiro que, pela relação interpessoal, já está (ou deveria estar) careca de saber como é ou o que aconteceu com o personagem em questão. Mesmo assim, a conversa segue, porque o espectador precisa saber.

4 – Falar o que se sente - Não basta a atuação ou a ação. Não basta já termos entendido tudo por uma determinada atitude. O personagem tem que dizer o que está sentindo e o que a levou àquele sentimento... E o quanto é difícil sentir aquilo tudo.

5 – Falar o que se pensa - O personagem está sozinho, aflito e fala pra si... (Tem que dar o recado pro espectador!) E faz uma expressão de angústia ou preocupação.
Esta nos leva para: 5b - Deixa do que vai acontecer – O personagem está aflito e fala alto, pra si. Mas não é um pensamento qualquer. É uma pergunta! “Será que ele vai conseguir as provas?”. E isso não é apenas insegurança do personagem. Isso é a deixa dos próximos capítulos... Atenção, aí vem a corrida pelas provas. E de duas, uma: ou o “ele” vai conseguir as provas sozinho ou a própria pessoa que faz a pergunta será fundamental para que o “ele“ consiga as provas.

6 – Soluções rápidas para um problema - O autor tem que seguir com a história. Um conflito tem que surgir, mas tem que ser solucionado. Não há tempo. Vamos com a mais fácil ou a mais extraordinária. Assim, fotos impressas são perdidas ou destruídas em pleno século XXI (valeu pela dica, João!), cartas reveladoras surgem do nada ou a cidade é vítima de terremoto para diminuir o elenco. E o Juca de Oliveira, o Denis Carvalho, o Jorge Fernando ou qualquer diretor ou ator consagrado pode também aparecer do nada pra trazer uma informação nova ou dar um final feliz pra alguém.

7 - Jargão de personagem cai na boca do povo – Não é brinquedo não! Pode ser uma frase simples, uma palavra, uma grande tirada ou uma frase que se salvou de ser ruim porque foi dita de forma diferente pelo ator. Não importa... O que importa é que sempre vai aparecer quando o personagem não tiver nada melhor pra dizer. E vai ser repetida até depois de depois de encher o saco...

8 – Estereótipos e clichês – Estão nos traços característicos do personagem e nos conflitos. Esses são de praxe. O espectador já espera por eles. Novela não é novela sem eles. São os gêmeos que vão trocar de identidade (e se apaixonar pela mesma pessoa); o casal que não pode ficar junto por diferença social; o Romeu e Julieta – com famílias rivais; o irmão mal do irmão bom; o velho que parece mal, mas no fundo é bom; a empregada engraçada; a suburbana sonhadora; o rico que não quer perder ou quer recuperar a fortuna; aquele que volta para se vingar (um clássico dos dias de hoje); etc. Esses são mesmo de praxe. Só coloquei pra lista ficar com dez itens.

9 – Os núcleos – Toda novela tem que ter núcleo. E toda novela tem que ter um núcleo rico, um núcleo pobre e um núcleo cômico, que pode ser um dos outros dois. Assim, aprendemos que na vida os ricos sempre encontram com os pobres. Ricos sempre se apaixonam por pobres. Ricos sempre moram em casarão com escadaria. (Mesmo quando é ‘apartamentão’, tem que ter uma escada.) Por outro lado, novela é drama e tem que ter alguma coisa pra aliviar a tensão. Tem que ter uma graça, que pode vir do núcleo pobre ou do rico. Mas não confundam... Se o patrão é engraçado, o empregado também é. Porque ali é o núcleo. O empregado é pobre, mas faz parte do núcleo rico e engraçado... Assim como na vida.

10 – O final feliz – Com raras exceções, de uma forma ou de outra, vamos ver um vilão se ferrar. Não precisa ser todo vilão. Só o menos carismático... Ou o mais vilanesco. Já o/a protagonista tem que se dar bem. Ele pode perder alguma coisa, mas tem que ser só um pouco. No mais, ele tem que terminar bem emocional e financeiramente (e de saúde). E mesmo que ele não case ou tenha filhos no final, alguém na novela tem que casar e ter filhos. Pode ser aquela amiga gente boa que ajudou a protagonista ou mesmo o irmão engraçado da protagonista. Ou pode ser a amiga gente boa com o irmão engraçado da protagonista (olha, quem diria... Logo eles que brigaram a novela toda!). Porque é isso que muitos esperam da vida. Ou o que muitos esperam que a gente espere: Sucesso, companhia e continuidade. Isto é, um sentido de realização. Sem considerar que negócios podem falir, relações podem esvaziar e filhos podem desvirtuar.

Eh... Não sei. Mas até que o Bruno Bloch tem alguma razão.


terça-feira, 2 de outubro de 2012

E nem precisa ser rabugento...

Moro em Botafogo e, hoje, fui ao cinema em Copa.
Logo ali do lado.
Dez minutos e cheguei lá.

Saí do cinema às 23h15. Estava a pé e precisava de ônibus. Como não era a primeira vez, fiquei atento, mas logo na saída vi o 434 passando ao longe. Corri. Não consegui chegar nem perto, porque - para o bem da população - agora o ônibus não pára mais em qualquer ponto. Andei até a Figueiredo Magalhães. Nenhum ônibus passou nesse meio tempo. Fui para outro ponto. Parei. Esperei mais 15, 20 minutos. E eu só precisava atravessar o túnel... Ia pegar um táxi quando vejo outro 434 vindo ao longe. Dei sorte. (Já passei por isso em Copacabana algumas vezes... E, na maioria, esperei mais e acabei pegando o táxi).

Ao subir no ônibus, quando já estava na roleta, ouvi um homem perguntar ao motorista:  - Esse ônibus vai pela São João Batista? O motorista disse que não. O homem ficou, o ônibus avançou e não deu nem tempo de avisar ao homem que, a essa hora, nenhum ônibus passa pela São João Batista.
(Sendo que quatro ou mais linhas costumam passar pela São João Batista.)

Isso não é mera crônica. Isso é realidade
Isso é o Rio de Janeiro de quem não costuma andar de carro.
Isso é um sistema de transporte que caga na cabeça do passageiro.

E antes que eleitores se voltem contra ou fiquem a favor...
Isso não é campanha política.
Isso é saturação.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A quem fica... (Tempo, não me deixe ser Lolita)

O fim de semana foi marcado pelo adeus a Hebe Camargo.

Fiquei sabendo da notícia meio tarde. Porque pra mim o fim de semana foi marcado por filmes e vídeos. Alienado da vida real, só me inteirei do fato na noite de sábado, ao ver uma reprise de uma antiga - bem antiga - entrevista no Roda Viva.

Alguma coisa estava errada...
Por que exibiam uma entrevista com o Paulo Francis rosado e gordo?
Por que exibiam uma entrevista com o Otávio Mesquita com pequenos indícios de cabelos brancos?
A Hebe apareceu ao centro e a ficha caiu.

No resto do fim de semana, acompanhei as notícias pelos sites.
Selinho de Sílvio Santos, choro da família, Paulo Maluf na primeira fila do velório.
Nada realmente mexeu comigo.
Nada, a não ser uma imagem.

Hebe Camargo fundou a TV brasileira.
Estava lá com Lima Duarte e Chatô (o homem, não o filme inacabado) quando tocaram o hino da TV.
Deixando de lado as ressalvas de muitos em relação à apresentadora (e relevando também a adoração desmedida de outros muitos), ela teve sua importância. Mas esta não pesou com a notícia. Na verdade, o único peso veio com a imagem da despedida emocionada de Lolita Rodrigues.

Todos já devem ter visto a famosa entrevista de Hebe, Lolita e Nair Belo no Programa do Jô (A quem não viu, acabo de saber que será reexibida hoje). É um clássico, pela descontração, pelas memórias e pela demonstração de amizade das três. Até aquele momento, não havia qualquer ponto de interseção entre as três em meu imaginário. Depois dele, não consegui mais pensar em uma sem lembrar das demais. E sem lembrar das famigeradas histórias de risos em velórios


O velório de Hebe deixa Lolita sozinha em meu imaginário.
Agora, só resta ela pra contar histórias.
E deve ser difícil ficar.

Lembrei novamente do Paulo Francis. Dos cabelos brancos e do rosto enrugado de Otávio Mesquita. Da idade em cada um que foi ao velório. Busquei o vídeo do Roda Viva na internet (porque, no fundo, mudei de canal e não dei atenção). Achei uma entrevista com Dercy Gonçalves e outra com Chico Anysio. De lá, os links me levaram para antigos quadros de humor. Quantos já morreram.

Viver é perder(-se em) referências. 

E fiquei imaginando os grupos de amigos.
Aqueles amigos com quem formamos grupos.
Aqueles grupos (ou sub-grupos) de amigos que vemos de fora, mas não pensamos em entrar. Apenas admiramos. E pensei em como se sentirá a Lolita de cada um desses grupos.
Para quem vai reclamar sobre o reumatismo ou a perda de audição?
Com quem vai dar risadas sobre a piada do último velório?
E lembrar de festas, pessoas e sentimentos passados?
Por mais que venham netos, filhos e amigos mais novos, não é a mesma coisa. Não é o mesmo elo.

Nessa hora, a gente não se preocupa em ser egoísta e dizer:
Tempo, tempo, mano velho...
Não precisa ser cedo. Não preciso ser o primeiro.
Mas, por favor, não me deixe por último.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

As músicas que nos perseguem

Há músicas que só foram feitas para nos perseguir.
Elas não estão ao alcance de qualquer um.
Elas surgem.
Não foram feitas para o carro, o som, o barzinho, o chuveiro ou a pista de dança.
Foram feitas para o inesperado.

As músicas que nos perseguem não são aquelas que grudam.
Aquelas são mais fáceis de tirar de nossas vidas.
Basta encontrar outra.
As músicas que nos perseguem estão em nossas vidas.
Na verdade, elas nunca saem.

Voltam como um soluço.
Sem avisar.
Quando menos se espera, elas estão ali.

São músicas que nos agradam.
E que revelam um pouco de nós.
É como se fossem de nossa autoria.
Estão em nossa alma e carregam um pouco dela.

As músicas que nos perseguem somos nós.
Perdidos pelas ruas.
No caminho daquele que vai desatento.
Na companhia daquele que espera pelo ônibus.
Ou daquele que está impaciente a espera de alguém.

As músicas que nos perseguem estão soltas.
E, de certo, elas não nos perseguem.
Nós é que as perseguimos.



Entre estas músicas que me perseguem estão músicas antigas, anteriores a mim.
Músicas que surgiram comigo.
Músicas que vieram muito depois.
Músicas de artistas conhecidos ou desconhecidos.
Músicas de amigos.
De diferentes estilos.
E as sacras.
Aquelas que ouvia na Igreja.

Entre as últimas, trago uma que há muito não ouço por aí.
Mas que sempre toca aqui.
A me perseguir...

Ela é simples.
Até infantil.
Mas sempre me acompanhou.
E acho que vou sempre persegui-la.

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Estrelas

As estrelas que você
Guarda no fundo do olhar
Só mostre para quem também

Brilha estrelas no olhar
Por entre noites de luar
Azul da cor da paz, do bem

Uma estrela lá no céu
Traçou uma reta para o mar
E o meu pedido fiz a Deus, pedi

Muito mais estrelas lá no céu
E muito mais no coração
De minha irmã, de meu irmão

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Reflexão miscelânica

Caetano Veloso é conhecido em Portugal.
Mas quantos brasileiros conhecem Rui Veloso?
Se perguntar o nome de um ator português que não atue em uma novela da Globo, alguém vai saber?
E argentino? E uruguaio? E angolano?
Brasileiro só ouve kuduro porque está na abertura da novela. E, mesmo assim, um kuduro que veio de um sucesso comercial portorriquenho. Um jabá.

Tenho uma nova página no Facebook, o Miscelânea Rabugenta (propaganda gratuita), que tem por meta divulgar e refletir sobre novos artistas, músicas antigas, diferentes ritmos, culturas ou músicas simplesmente divertidas. Hoje, ao voltar a uma música angolana, me deparei novamente com a reflexão (rasa) sobre o imperialismo cultural.

Todo mundo sabe, debate, reclama, se opõe ao imperialismo cultural americano.
É sabido que o mundo vive há anos uma idolatria da cultura americana. Ou, da cultura de língua inglesa, numa maneira mais abrangente.

Não gosto de levantar bandeiras... Não quero impor gostos ou dizer o que está certo ou errado.
E não acredito que seja apenas por educação que a pessoa goste de rock, em detrimento ao fado, ao tango ou mesmo ao samba. Mas não deixo de ficar incomodado quando esbarro no desinteresse alheio. Quando, mesmo sem conhecer ou saber do que se trata, alguém diz que não quer ouvir determinada música, ver um filme, ler um livro ou conhecer qualquer traço de determinada cultura. É o mesmo que dizer que não se gosta do doce sem nunca ter experimentado (eu sou meio chato pra comida e entendo que o sentimento para quem oferece deve ser o mesmo).

Independente da questão (que não fica apenas no âmbito cultural), o incômodo rabugento de hoje passa pelo risco de nos tornarmos americanos. Sempre tive fascínio pela cultura brasileira e a propago com afinco. Gosto de ver um gringo fascinado com um sambinha, um chorinho, dançando um forró desajeitado, comendo uma carne seca ou falando um bom Tupiniquim. Mas sei também que há de se ter cuidado. Não podemos esquecer do intercâmbio. E não podemos nos furtar do interesse pelo que vem de fora.


Não sabemos nada sobre nossos vizinhos.
Os cômodos vão rebater e dizer que o Brasil é que é excluído do resto da América Latina, por enfrentar a "barreira da língua". Mas o que sabemos dos países que falam português?
Não sabemos nada, não queremos saber. Mas queremos nossa brasilidade pelo mundo... Queremos Gisele nas passarelas, queremos as Havaianas e os biquinis nas praias de Ibiza e queremos ver filmes americanos dirigidos por brasileiros. Queremos a afirmação. E embora todo intelectual critique e sinta-se envergonhado de ser representado internacionalmente por um folhetim, todos dão uma olhadinha na TV quando estão fora do país, pra ver se não tem uma novelinha no ar. No fundo, gostam de se sentir 'em casa'.

Que novelas, filmes, músicas, livros, obras de arte, artistas, comidas, técnicos, esportistas e hábitos sejam exportados. Sou o primeiro a querer vê-los difundidos pelo mundo. Mas que o mundo - que não está apenas na "América" ou em ilhas britânicas -  também chegue ao Brasil. Que o Brasil esteja aberto para o grupo de soul português, para a cantora tradicional de Cabo Verde, para o semba de Angola, o cantor pop maluco da Coreia e o cinema premiado da Argentina. Que a miscelânea cultural possa abrir a cabeça dos brasileiros e que o mundo possa entender melhor o Brasil. E que as lágrimas de nosso orgulho exacerbado não embaçem nosso olhar... Como acontece por aí.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

31 coisas para se fazer no Rio...

31 coisas para se fazer no Rio de Janeiro...
Quando você é realista, não tem dinheiro, não é turista ou não pertence ao mainstream:

1 - Passear pelo engarrafamento do Jardim Botânico;
2 - Ver asas-delta saltando da Pedra Bonita e dizer pra si que um dia você vai ter coragem;
3 - Tomar uns chopes no botecão de qualquer Luiz;
4 - Comer queijo coalho na Feira de São Cristóvão (tendo plena certeza de que bom mesmo era antigamente, quando você não precisava pagar pra entrar - afinal, um real já complementa na conta);
5 - Levar uma criança na porta do Planetário (e deixá-la por lá);
6 - Beber cachaça em casa, na pré-night, com o dinheiro que economizou não indo pra Academia;
7 - Ver muitas pessoas no Jobi, enquanto come no Koni;
8 - Passar a tarde no Paço Imperial... Em dia de semana, enquanto prolonga a hora do almoço;
9 - Assistir a um Fla-Flu... no Engenhão;
10 - Não perder dinheiro comendo casquinha de siri no Rio e nem tempo indo pra Prainha (sim, é linda, mas é longe);
11 - Desenhar o Arpoador na tatoo feita em uma galeria qualquer de Copacabana;
12 - Comer biscoito Globo na Central e imaginar que está no Leblon;
13 - Pedalar com bicicleta do Itaú pela Lagoa;
14 - Sábado, esperando por mesa nA Cobal;
15 - Saber que existe o Real Gabinete;
16 - Passar pela porta do Cecília Meirelles naquela noitada da Lapa;
17 - Relaxar no trânsito da frente do Parque Lage;
18 - Achar muito brega quem tem um prato com foto no Pão-de-Açúcar;
19 - Olhar os hotéis e o Corcovado (no trânsito);
20 - Ir à fila de uma exposição do MAM (porque nessa tá todo mundo indo, então eu vou também);
21 - Ver o Mosteiro de São Bento (em fotos);
22 - Dar uma batida na porta do Osvaldo;
23 - Não saber que o Municipal abre aos domingos;
24 - Ver a cabeça gigante de Getúlio no Catete (e achar que o obelisco de Ipanema era até bonito);
25 - Ter plena consciência de que baiano faz muqueca e de que tem mais o que se comer no Rio;
26 - Passar o Ano Novo na praia de Copacabana, enfrentar o caos do trânsito (pior do que do Jardim Botânico, do Parque Lage etc), ficar com torcicolo e dizer "que bonito, valeu pela experiência, mas ano que vem eu vejo de casa mesmo...";
27 - Ir à Colombo no Centro e lembrar que tinha 20 anos que você não ia lá;
28 - Achar que Chácara do Céu é apenas uma referência em um funk antigo da década de 90;
29 - Pensar na carne de sol de Santa Teresa., mas lembrar que o bonde caiu e que você não quer subir de van;
30 - Ir até a Glória e ver bem de longe a Igreja de Nossa Senhora;
31 - Assistir ao pôr do Sol na praia de Ipanema, aplaudir e depois se achar muito carioca, muito privilegiado, mas enfrentar um dobrado pra voltar pra casa.

Ah... E tem a 32a.
Não apoiar o César Maia!

OBS: Essa é uma resposta a este post aqui...

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Pais, tapas, filhos e beijos

Num domingo, há duas semanas, resolvi preencher tempo com filmes que havia comprado e não (re)visto, frutos daquelas promoções que a gente teima em aproveitar, mesmo sem ter tempo. Peguei dois filmes que, coincidência ou não, estavam juntos na prateleira de casa. E vi sem perceber de início o quanto os dois se completavam.

O Campeão
 (The Champ - 1979)

Billy Flynn (Jon Voight) é um ex-boxeador que abandonou o esporte por problemas pessoais e passou a adestrar cavalos. Ele cuida do filho, T. J. (Rick Schroder), sem a ajuda da mãe que, para todos os efeitos, está morta. Para esquecer os fracassos da vida, Billy vive de boemia e jogatina. Viciado e desacreditado, o adestrador chega a roubar o filho para jogar. Mas o filho não se importa. Para T. J., Billy será sempre um campeão. A trama ganha força com a entrada de Annie (Faye Dunaway), uma misteriosa ricaça que conhece o garoto em uma corrida de cavalos.

Embora o filme de Franco Zeffirelli mostre a trajetória de um homem que tenta superar os fracassos, fica claro que Billy não é um ex-boxeador, um adestrador ou um viciado em jogos. Billy é um pai. Essa é a maior força do filme e é disso que ele trata. A maior frustração de Billy é não ser mais o campeão, como o filho insiste em chamá-lo. Não corresponder à imagem que T. J. faz dele é o que o move, para o bem e para o mal. E quando Annie aparece na história, Billy ganha o estímulo necessário para mostrar ao mundo que continua sendo um campeão.

Na primeira vez que vi este filme, eu era mais novo que o filho do Campeão. Lembro de ter chorado como uma criança. Na época, eu já era órfão de pai e sempre imaginei que a reação tinha a ver com o tema. Mas revi o filme e voltei a chorar. Não teve como. O melodrama escorre por cenas capazes de fazer o mais duro dos machões soluçar como uma menina. E boa parte do mérito vai para Rick Schroder, um ator mirim como poucos. Ele não é do tipo que dança e canta. Embora o lado da ingenuidade do personagem pese, é na interpretação que o menino ganha o filme.

Dessa vez, a cena que mais chamou a atenção não foi uma das que lembrava, das que faziam chorar. A que mais marcou foi uma cena forte em que o pai tenta fazer o filho deixar de idolatrá-lo. Ele precisa fazer com que o filho o deixe e, numa discussão, dá um tapa no garoto. O tapa é dado também no espectador, que sente a dor de ambos. Em época de politicamente correto e de educação sem palmada, o tapa fica até mais agressivo.

Depois de algumas lágrimas, fui ao segundo filme.

Ladrões de Bicicleta
(Ladri di Biciclette – 1948)

Na Itália do pós-guerra, o desemprego é grande e o trabalhador tem dificuldades para sustentar a família. Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani) é um desses casos. Um posto para colar cartazes de cinema é oferecido, mas, para tal, o interessado precisa ter uma bicicleta. Antônio penhorou a sua e precisa recuperá-la. Para ajudar o marido, Maria (Lianella Carell) vende os lençóis da casa para conseguir dinheiro. No primeiro dia de trabalho, Antônio está distraído quando um jovem rouba a tão necessária bicicleta. A partir daí, com a ajuda do filho Bruno (Enzo Staiola), Antônio parte atrás do ladrão, em uma busca por diversos pontos da cidade de Roma.

Assim como o de Zeffirelli, o filme neo-realista de Victorio De Sica também narra a trajetória de um homem em busca da dignidade. Embora a intenção fosse mostrar a realidade e discutir o drama de uma geração, criando um retrato da Itália do fim da década, a história enquadra a jornada de Antônio também pelo aspecto da obrigação (naquele momento, essencialmente masculina) de prosperar e cumprir sua função social de provedor.

Os pontos de interseção entre os dois filmes vieram através de um novo tapa. Bruno acompanha Antônio em toda a trajetória. Sempre ao lado, tentando andar no ritmo do passo do pai, tentando ser útil. Em determinado momento, cansado, Bruno deixa de obedecer ao pai e Antônio, também num momento de extrema irritação, desconta no filho. A primeira reação que tive foi: “Eita, quanto tapa na cara!” Depois, foi inevitável a comparação entre os filmes e a observação maior dos mesmos pontos no qual o primeiro se destacara.

Antes do tapa, Enzo Staiola era o menino que dava um pouco mais de vida à trajetória do protagonista. Depois, o garoto foi roubando a cena, aos poucos. Talvez, por minha maior percepção. Em todo caso, vi ali outro ator mirim digno de prêmio da categoria. E a partir dali comecei a focar mais no filme pelo viés da paternidade. Antônio leva o filho como ajudante, mas também para plantar a semente da responsabilidade e da abnegação. Mesmo quando erra o passo e toma as atitudes erradas, Antônio é exemplo para Bruno. Mesmo quando Bruno tem mais consciência do que o pai. Mesmo quando Bruno precisa ser o apoio para o pai não desabar.

Fiquei com as duas histórias na cabeça. Com a proximidade do dia dos pais, foi inevitável lembrar essa coincidência e pensar na reflexão que os filmes, em conjunto, trouxeram. Não sou pai e perdi o meu muito cedo, mas me atrevo a afirmar que a moral de todas as histórias entre pais e filhos, com ou sem tapas e beijos, é... Na vitória ou no fracasso, na alegria ou na vergonha, o que um filho mais quer é poder andar ao lado do pai e segurar a mão dele. E, mesmo que falho, imperfeito e desvirtuado, poder chamá-lo de campeão.

domingo, 22 de julho de 2012

Santo fan film!

Em semana de estreia da última parte da melhor trilogia sobre o Homem-Morcego, deixo aqui o fan film que mais gostei até hoje... E o mais pesado.
Apenas pros fortes!



Batman : Ashes to Ashes from Julien Mokrani on Vimeo.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Mostra tudo Darcy!

Fazer Cinema é coisa pra maluco.
Fazer Cinema no Brasil é coisa pra masoquista.
Fazer Cinema no Brasil sem dinheiro e sem tanta experiência é coisa que vai além da maluquice, do masoquismo. É trabalho de inseto. Como pulga, abelha, formiga, é muito trabalho, um peso muito maior que o próprio corpo e uma visibilidade muito pequena.
Além da sensação de que tem muita gente querendo te ver parado.

Aproveito esse espaço pra divulgar os trabalhos de alguns colegas da Escola de Cinema Darcy Ribeiro.
Os guerreiros do último módulo estão tentando tirar as histórias do papel!

Estou ajudando na produção de alguns desses filmes...
Todos agora estão em fase de pós-produção.
Mesmo assim, peço para que acessem as fan pages e, se possível, as curtam!

Quanto mais pessoas estiverem conectadas a essas histórias, maior o nosso alcance.
E maior o incentivo para os diretores, roteiristas, fotógrafos, produtores, assistentes, atores, diretores de arte, figurinistas, maquiadores e técnicos em geral.

Os links estão abaixo das fotos!

 

Correspondência


Direção: Aimê Moura
Roteiro: Alan Daniel Braga
Montagem: Paula Sancier
Link de acesso

A Partir do Final


Direção: Luiz Cláudio dos Santos e 
Guilherme Folly
Roteiro: Luiz Cláudio dos Santos e
Alan Daniel Braga
Montagem: Carlos Roberto Moreira
Link de acesso

A Passageira


Direção: Romana Naruna
Roteiro: Alice Alfinito
Link de acesso

Doce, Puro, Eterno


Direção: Cadu Barros
Roteiro: Aline Macedo
Link de acesso

Álgebra


Direção: Pedro Lauria
Roteiro: Bernardo Sardinha
Link de acesso

Outros filmes da escola estão em fase de produção.
Alguns já conseguiram até uma boa verba.
Outros, como os acima, estão indo pro set sem grandes apoios ou patrocínios.
E alguns estão buscando ajuda pra sair do papel.
Todos na raça!

O filme abaixo é uma das produções que ainda busca apoio financeiro pra sair do papel.
Aos que puderem ajudar, no link há valores e contrapartidas!

Sol de dentro


Direção e Roteiro: Luana Laux


Agradeço a todos pela atenção!
O Cinema Brasileiro também agradece!

terça-feira, 3 de julho de 2012

Os 50 que poderiam ser mais

Os 50 motivos que deixam o Rabugento mais rabugento (em ordem de lembrança):
1 - Indiferença. Entre as pessoas, mas também com algum trabalho... (Fale mal, fale bem. Só não deixe de falar.)
2 - Atraso. Ninguém gosta de ficar esperando. (Então, por que deixamos os outros esperando?)
3- Qualquer pessoa mais próxima que não retorna telefonema, mensagem, e-mail... Não precisa aparecer, não precisa ajudar, dê desculpa. Mas não me deixe falando sozinho. (OK, OK. Também é indiferença...).
4 - Pessoas que querem dar opinião (em sala de aula, em debate, em palestra, em reunião) pra mostrar que sabem muito...
5 - Gente que não sabe cantar e canta alto em lugar público.
6 - Gente que acha que é DJ e ouve música alto em lugar público.
7 - Gente que fala alto em lugar fechado e público.
8 - Críticas e opiniões com erros grotescos de Português. O cara acha que tá abafando e perde toda a credibilidade.
9 - Gente que se acha genial.
10 - Gente que acha que o Rabugento se acha genial.
11 - Falta de humildade, como um todo. Parece falta de humildade quando fala-se sobre humildade, mas a verdade é que tem muita gente se achando por aí.
12 - Qualquer pessoa que tente me convencer de qualquer coisa (eu sei, é defeito meu. Mas venha apenas com opinião e sem vontade de fazer mudar, que eu escuto).
13 - Pseudo-intelectuais.
14 - Intelectuais (principalmente os que se portam como tal).
15 - Adolescente.
16 - Pré-adolescente.
17 - Criança mimada.
18 - Pais que não dão limites aos filhos e deixam aquela criança mimada chorando ao seu lado.
19 - Adulto mimado.
20 - Pessoa felizinha... (Não é a pessoa feliz. É aquela que tem um momento de overdose e fica felizinha, beirando o ridículo... O Rabugento, por incrível que pareça, às vezes sente-se assim. E quando se dá conta, se acha ridículo).
21 - Falta de educação.
22 - Brincadeira "sem limite" e gente que não sabe brincar.
23 - Música sertaneja (quase todas... E não confundir com a caipira, do sertão. A sertaneja pós-moderna).
24 - Sertanejo universitário.
25 - Discurso político descaradamente demagogo.
26 - Campanha política. Porque a maioria traz um discurso político descaradamente demagogo.
27 - O sistema de transporte público do Rio. Que é ruim, atrasa, não te dá retorno, carrega pessoas que acham que podem cantar, que falam alto, que se acham DJs, sem educação etc.
28 - Lixo virtual (como um todo).
29 - Programas de linha de show (principalmente os de auditório que misturam diversas atrações e são descaracterizados).
30 - Falta de programação na TV paga.
31 - A ausência de esperança na TV aberta (com algumas exceções).
32 - Comercial em filme de TV paga (2 minutos é o c...).
33 - Comerciais de canais como Warner e TNT, que geralmente duram mais que o programa.
34 - O mercado publicitário brasileiro, sua mania de grandeza e seus termos em inglês.
35 - O capitalismo selvagem.
36 - A falta de inspiração e criatividade (a minha e a dos outros).
37 - O "fenômeno" da Classe C (e o mercado sempre tratando por classe).
38 - Universidades-shoppings e diplomas "pagou, levou".
39 - O mercado imobiliário carioca (que não apenas está inflado, como destrói a simplicidade pra construção da megalomania e do mau gosto).
40 - Futilidade.
41 - Falta de humanidade (isto é, falta de razão e sensatez) e de respeito.
42 - Excesso de respeito, cordialidade, formalidade.
43 - O politicamente correto como um todo.
44 - A falta de objetivo da vida moderna.
45 - O pré-julgamento de pessoas e atos.
46 - A celebração da estupidez. (Essa eu aprendi com o Renato Russo).
47 - Usar a religião como arma e usar armas contra a religião
48 - Burrocracia.
49 - Babaquice. (Aí é bem amplo...)
50 - Textos repetitivos e metidos a inteligentes (como esse).

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Criadores de Acaso

O Rabugento tem amigos que criam acasos...
O que é diferente de ficar por aí gerando discórdia.

Na verdade, são eles que discordam...
Do lado único.
Da verdade imperante.
Da vida inerte.
Da ausência de coragem.
Da pouca imaginação.
Do politicamente correto.
E por isso eles se denominam Criadores de Acaso.

Não é a primeira vez que o blog faz alguma citação dos Criadores.
"Mostra ao destino o que é melhor..." - Este é um verso recorrente por aqui.
Ele já esteve aqui como desejo e dedicatória de amigos.
Porque o Rabugento está sempre tentando um caminho.
E por mais que não encontre, por mais que não seja um criador, o Rabugento já entendeu há algum tempo que só a tentativa de se tornar um criador já ajuda...

Agora, quero mostrar de onde veio o verso.
Os amigos do Rabugento lançaram um vídeo novo, com a música que traz o verso.
E é um prazer tirar o meu chapéu coco para eles.
Cliquem na foto e sigam pro vídeo...

Que sejamos mais folhas soltas por aí...


segunda-feira, 18 de junho de 2012

O legado do homem moderno

Com a Rio+20, tenho pensado muito no legado que podemos deixar para as futuras gerações.
Segui a máxima "tenha um filho, plante uma árvore e escreva um livro"... E percebi que a futura geração já é o legado. Por isso, tentei entender melhor os três pontos, se trazidos para a nossa realidade.

1 - Tenha um filho
Um filho. Não cinco, seis, sete...
OK, você pode ousar e ter dois, três, mas lembre-se que filho não é obra de arte. Você não faz pra se orgulhar porque veio perfeitinho. Você não faz pra pendurar na parede e mostrar pros amigos. Você não faz pra descartar quando tiver enjoado (ou ele estiver enjoado).
Você não faz só porque teve vontade de fazer a obra... Até porque a obra também terá vontades.

Não vou entrar aqui no mérito custo de vida, porque teria muito o que dizer.
Mas lembre-se que filho também é legado. Você deixará uma extensão de você. Pode ser melhor, se você souber criar. Mas se você não tiver o que dar, seu filho não terá nada a receber.

Resumindo: Se você for lagarta e tiver mais preocupado em ter lagartas do que em - antes - virar borboleta, algo pode dar errado... (Esse exemplo ficou bem estranho, mas não consegui pensar em bicho melhor que pudesse se transformar em outro... Tem o girino, que vira sapo, mas seria uma imagem estranha. Tem o macaco, mas esse não soube evoluir direito).

Conclusão: Eduque-se e evolua antes do 'tenha um filho' para não comprometer as futuras gerações.

2 - Plante uma árvore
Essa é mais difícil nos dias de hoje... A maior parte das pessoas está presa em concreto.
Mas há meios... Quem procura, acha.

Bem... Não queria vir aqui para fazer discurso ecológico. Mas é inevitável.
Se cada um que tivesse um filho, plantasse uma ávore (oito pra quem tiver oito filhos), a coisa estaria melhor.
Se cada filho plantasse outra, a coisa estaria muito melhor.

O que vale ressaltar nesse legado é a importância de se preocupar com a árvore.
Se você planta, quer ver crescer. Se quer ver crescida, quer que se mantenha.
E assim, segundo Pollyana, a preocupação com o todo passaria a ser maior.
Porque só acreditando muito na humanidade dá pra se afirmar que o homem que tem filho sem planejar ou o homem que passa a mão na cabeça do filho quando este faz besteira  vai ter alguma sensibilidade com a árvore alheia.

Para Pollyana, há(i) que se acreditar...
Mas se você não é Pollyana, sabe que só há uma solução possível.
E esta passa pelo mesmo mérito de se ter um filho.

Conclusão: Eduque-se e evolua antes do "plante uma árvore" para não comprometer as futuras gerações.

3 - Escreva um livro
Essa é mais difícil ainda nos dias de hoje...
E nem precisa se aprofundar tanto.
Ao menos, se tratarmos de Brasil.

Hoje ninguém tem a pretensão de escrever um livro. Porque sabe que poucos irão ler...
Hoje ninguém mais sabe escrever livros.
E por mais que até alguns acadêmicos - aqueles que afirmam que as pessoas estão escrevendo mais - discordem, com o advento das novas mídias a coisa está pior.
Porque não adianta escrever mais quando se escreve errado.
(Eu mesmo devo estar errando agora, por aqui).
Os funcionais se alastram por aí...

Por isso... Voltamos ao começo.
Conclusão: Eduque-se e evolua antes do "escreva um livro" para não comprometer as futuras gerações.


O tom do post está indo além da reflexão. Está um tanto imperativo.
Não quero com isso dizer que sou educado e evoluído.
Não... Sou apenas uma pessoa em busca de consciência.

Quanto ao meu legado?...
Não tenho um filho.
Não penso em tê-los no momento, mas também não descarto uma possibilidade futura.
No entanto, sei que precisa mais que vontade.
Não plantei uma árvore. (...tirando o feijãozinho no copo.)
Mas, há anos, vou diariamente no Clickárvore pra aliviar minha consciência pesada. Não encaro o ato como plantar mais árvores, mas como regar ao menos uma.
Não escrevi um livro.
Mas, se filmes e peças tiverem valendo, meu legado já começou...

E que o homem moderno saiba também ter livros e árvores, plantar livros e filhos e escrever filhos e árvores.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Todo dia no mar do farol...

Em um se farão carne e intenção
E ao fim do dia
Dois voltarão

Namorados... Lembrem que a escolha é para mais de um dia.
Ou mais de uma noite.
Façam-se nascente e poente
Momento e ausência
Lá e cá
Hoje e amanhã

E mantenham-se únicos
Sem deixar de ser par
Porque dois nunca serão realmente um
Mas também não se deixarão separar




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Aproveito para registrar: escrevi um texto para esse dia no blog "Panelinha da Mila".

Nada demais, mas leiam lá!

E aproveitem para rodar pelo blog, ler os outros textos do dia e pegar as boas dicas culinárias!

terça-feira, 5 de junho de 2012

Hard Candy Christmas

Vida de puta deve ser uma vida filha da puta...
Daí a gente ouve falar de casos como o da Bruna Surfistinha e imagina que nem todas estão ali apenas por necessidade... Por falta de oportunidade.
Algumas gostam...
Mesmo assim. Deve ser duro.

Quando pequeno vi aquele filme musical 'A casa mais suspeita do Texas'.
(Se tiverem lido os dois últimos posts vão ver que isso é recorrente por aqui).
Além do título grande, chamavam a atenção aquelas meninas...
Se todas as garotas de programa fossem como as do filme, a vida era boa.
Para elas e para nós!
Elas pareciam se divertir naquele lugar.
E os homens se faziam com mulheres sensacionais.

Ah, a vida nos filmes...
Lembro que via a música de despedida com a sensação real de que duro na vida eram aqueles finais.
Duro não era a vida na Granja.
Duro era ter que deixar a Granja...
Duro era aquela Granja não existir de verdade.
E quando a última garota - com mais cara de namoradinha -  cantava "Maybe I'll meet someone and make him mine", pensava na minha cabeça 'infantil'... "Aqui! Eu! Escolhe eu!".




Pra felicidade das prostitutas românticas, no final a Dolly Parton - uma mulher de fibra, das que peitam a vida (ô, piadinha ridícula) - terminava com o Burt Reynolds.
Virava esposa... Não com o peso que a palavra esposa tinha por convenção no filme.
Mas saía da vida fácil e dura.

Anos depois, a música que ela cantava pra ele foi parar em outro filme e virou hit mundial.
Hit, aliás, que tocou até o mundo todo enjoar.
Hit na voz de uma cantora que morreu há pouco tempo.

Bons tempos o da Granja!
Bons tempos de garoto sonhando com atrizes-dançarinas gostosas que brincavam como mulheres experientes, porém solitárias e a espera de garotos que as tirassem daquela vida...  
"Young boys looking for sin"
Bons e volumosos tempos.

"...But there´s nothing dirty going on!"

sexta-feira, 18 de maio de 2012

On the radio

Hoje, no rádio do carro - de certo em homenagem póstuma - tocou Donna Summer.
No rádio, "On the radio"...

Como viver é perder(-se em) referências, lembrei imediatamente deste filme abaixo.
Um filme antigo...
Eu o vi criança ainda. Revi algumas vezes.
Lembrava muito da música como tema, mas só hoje, vendo essa montagem, entendi o porquê...
A música invade o filme.
Ela é um personagem.

A letra é melancólica, mas não chega a ser dramática.
Já o filme...



Aproveito - peço licença, desculpas, por favor - e tomo a liberdade de deixar o link de outra homenagem que marcou os últimos dias.

Uma amiga de longa data fala de um amigo de longa data.
Amigo dela, mas que também conheci por anos.
E sei que a música, se tirado o contexto romântico, fala muito daquela amizade.
Uma amizade de quem se percebe em poucas palavras.

Tomo lugar do locutor do rádio e divulgo a carta.
Que seja lida alta, pra alcançar as ondas do rádio e tudo mais que voa!
Pra que todos ouçam a última carta que me fez chorar...

http://balaiodajulia.blogspot.com.br/2012/05/carta-um-amigo.html

domingo, 13 de maio de 2012

Let the sunshine in

Fim de semana marcado por essa cena...
Do filme que passou duas vezes em uma festa deste sábado.

Lembrei que vi Hair ainda pequeno. Criança.
Uma loucura pros dias de hoje...
Um filme que usa termos como Sodomia, que mostra cenas com viagens de LSD, fala abertamente de sexo e faz piada com tradições.
Uma loucura pros dias de hoje...
Um filme cuja mensagem principal - além da liberdade - é 'paz e amor'.
Uma loucura pros dias de hoje.

É claro que muita coisa não era entendida por mim...
(E pais podem sim deixar pra explicar as coisas com o tempo... Se a criança não perguntar).
Mas o fato é que não fui vetado.
E hoje vêm os moralistas querendo censurar crianças e proibi-las de uma "exposição".
Protegê-las da vida.

No dia das mães, vale só o velho recado...
Mães - e pais - eduquem seus filhos... Não os "protejam".
E eduquem para que sejam melhores.

No mais...
Eu poderia postar hoje uma homenagem às mães (mais diretamente à minha).
Eu poderia postar algo que celebrasse a vitória do Fluminense no Campeonato Carioca.
Mas "Let the sunshine in", indiretamente, já está ligado a isso tudo.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Os amigos do Rabugento


"Alguns pensam que para se ser amigo basta querê-lo, como se para se estar são bastasse desejar a saúde..." Aristóteles

Amigo não se conquista de um dia pro outro.
Têm aqueles que se conhecem agora e daqui a pouco já se consideram amigos de infância.
Mês que vem não se encontram mais.
E nada fica.

Amigo se constrói. E a gente se constrói com amigos.
São os velhos ombros, que nos mantêm olhando, acima da massa, o horizonte.

Amigos nos revelam...

Ontem, um grupo de amigos do Rabugento - que, nos desenhos, seriam considerados os vilões do jogo - fez uma surpresa. E o Rabugento até sorriu...

Dentre os produtos da surpresa, o texto abaixo!
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Manifesto ao Rabugento

De verdade, só na ficção é que somos felizes.
Aquela ficção que nós mesmos produzimos.
Aquela ficção que você produz tão bem...

Então, vamos à ela!
Viva a ficção!

Ponhamos nela tudo aquilo que, de verdade, preenche nossos corações.
Contra a tristeza!

Contra a maldade!

Ponhamos nela sua alegria, sempre, sempre esgueirando-se por trás de um suposto mal humor, de um falso pessimismo e de uma divertida e escancarada rabugice.
Ponhamos nela seu enorme coração, que de tão grande não tem sucesso em se esconder, mesmo que se tente camuflar num jeito meio "sem jeito" de amar.

Contra a rebeldia sem causa!
Contra o egoísmo!
Há sim pelo que lutar. E você luta.
Você sabe que há muito por fazer. E você faz.
Nos são oferecidas novas armas. E você as tem.

E, entre as quatro paredes do quarto, são textos, são incentivos, são apelos, são pontos de vista, é revolta!, são pedidos, é carinho, é o "Jogo do Eu", é um turbilhão musical, é arte latejando - inquieta, louca pra sair -, é doação, é sentimento - essencialmente amor, é confusão, são muitas coisas, é quase tudo!

Até quando viver a mesma vida? Até quando buscar abrigo na ficção e fugir da impiedosa locomotiva da realidade? E se a locomotiva, de tão rápida e feroz, invadir até mesmo a realidade? E contaminá-la com sua fumaça tóxica e seu ruído ensurdecedor? Será o fim?

Contra toda essa loucura que chamamos de realidade! E contra sua locomotiva!
Mas nunca a fuga da realidade!

Somos mais que isso... Você é mais que isso.
Talvez você é que empreste à ficção de seus roteiros, de suas peças, de suas músicas, de suas prosas a boa essência real de que precisam para existir. De que precisam pra emocionar. É então o caminho inverso. É a própria ficção buscando a virtude no que é real. No que é seu.

Mas você pode se perguntar: o que é real e o que é ficção?
É mesmo preciso diferenciar uma da outra?

Afinal, o que se quer é pôr fim às angústias cotidianas.
O que eu quero é viver. Viver feliz. Ser rabugento. Usar o gelo sem encher de novo a "cambuca". Andar ou correr, conforme a minha vontade. Tropeçar. Cair. Mas levantar apenas quando eu quiser. Sorrir sorrisos espontâneos. E se são raros, o problema é só meu. Eventualmente, usar roupas que alguém escolheu pra mim, mas, pelo menos, saber disso.

Tudo isso pode ser real.
Tudo isso pode ser ficção.

Contra as regras e seus limites! (Eu gosto de quem não tem limites...)

Então, chega!
Conclui-se que de nada vale a diferença entre o real e o imaginário.

Mais um ano se soma aos já vividos, mas ainda posso ser o que eu quiser!
Sim, eu posso ser o que eu quiser.
Posso viver minhas próprias personagens.

Em uma das histórias, minha personagem foi salva por mendigos, que esqueceram o ronco da barriga para se preocupar... Comigo.
Em outra, lutei caratê contra uns 10 (ainda que fossem crianças brincando de ganhar a vida).
Em outra, também havia crianças, muitas, mas aí eu fazia sorrir, com as trapalhadas de um marinheiro que tentava salvar a pequena Maribel.

São muitas histórias, Rabugento.

Abaixo as algemas invisíveis!
Sempre é tempo de recomeçar.
Mas apenas o faça se e quando julgar conveniente.
Do contrário, siga!

Siga o caminho, mantenha-se vivo!
Mantenha a sanidade, a criação, as possibilidades.
Continue tentando trazer a sorte, ao invés de esperar por ela.
Continue mostrando ao destino o que é melhor!

E que todos nós aqui tenhamos sempre algum papel nesse bonito longa, bem longa, metragem da sua história!
O mundo te espera outra vez!
Viva o Rabugento!
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Agradeço a todos que, de certa forma, compartilhem desse sentimento acima!

Ao Barifouse (autor do texto), à Fer, à Carol, ao Mario, ao Crof, à Camila, à Ana Flávia, à Paulinha Lins, ao Leo Muniz, à Claudinha, ao Huguinho, ao Scotti, à Tati Almeida, ao Pedrão, à Mari, ao Marcelo Muniz, ao Alex, à Fabiana, à Samantha, ao Xabinho, à Paulinha Machado, ao Armando (espero não ter deixado ninguém de fora na confusão da noite de ontem) e aos que não conseguiram chegar a tempo (Leo Colonese, Matheus...) ou não puderam aparecer (Ana Bia, Bibi, Helena, Joanna etc), meu muito obrigado e meu ombro sempre!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Cinzas

Céu azul e sol forte.
A folia continua na cidade... Mas o movimento é menor.
Dia de Cinzas.

Segundo o "sabedor" Wikipedia:
"A quarta-feira de cinzas é o primeiro dia da Quaresma no calendário cristão ocidental. As cinzas que os cristãos católicos recebem neste dia são um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a passageira, transitória, efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte."

As cinzas representam o real arrependimento perante Deus.
E assim se dão os sacrifícios de Quaresma.

Já vi diversas formas de sacrifício.
E sempre me pergunto como fazer isso de forma certa.
Porque se é motivo para mudança de vida, o sacrifício não deveria terminar em 40 dias. Deveria se tornar hábito.
Ou não?...
Tenho muita dificuldade com sacrifícios de Quaresma.
Parte por fraqueza, parte por falta de convicção.
Não acredito que vá valer a pena sem mudanças.
Não me sinto sendo sincero ao viver uma transformação com prazo de validade.

Mas o sentido de toda essa reflexão vai além da conversão católica.
Amanheci com a sensação de que preciso inventar novas vidas.
No papel ou na minha história.
A sensação de que as coisas devam mudar.
Os rumos devam mudar.
Necessidade de novas pessoas, novos risos, novas ambições.
Necessidade de novo.

Antes do Carnaval, recebi uma notícia triste.
Mais que de morte.
De vida interrompida...
De uma vida que, a meu ver, embora sujeita a grandes atribulações, sempre apareceu com sorriso. Uma vida que, embora já distante, não imaginava tão sofrida.

Diversas coisas passaram pela minha cabeça antes de cair na folia...
Foi inevitável pensar que posso ser arrebatado pelo outro.
Porque o social nos faz menor.
E desperdiçamos essência e vida na necessidade de sermos aceitos.
Mas também não podemos nos fechar para o social.
Porque não vivemos sem ele...
E ele, de certa forma, nos redime.

Depois de uma noite insone, abstraí...
Fui a blocos, revi amigos, não consegui encontrar com outros.
Vi confraternizações.
Vi alegria verdadeira.
Mas também vi a necessidade de ser alegre.
A vontade de vida.
Mas também a vontade de parecer que se está vivendo.
A vida nem sempre vivida.

Ontem, estava cansado.
Queria reencontrar amigos em blocos.
E aproveitar a vida no último dia de folia.
Mas já estava cansado.

Aproveitei pra ficar em casa até o meio da tarde.
E, ao ligar a TV, esbarrei no filme "Três irmãos de sangue".
A história de Betinho, Henfil e Chico Mário.


Os três irmãos Souza.
Os três hemofílicos.
Os três vítimados pela AIDS.

Já conhecia os três, as histórias... Mas não a fundo.
E a mensagem veio na hora certa.
Não menos providencial...
Ontem, começaram as minhas cinzas.

Betinho, Henfil e Chico Mário eram geniais.
Sociólogo, cartunista e músico geniais.
Pessoas geniais.
E como o filme mesmo mostra... Nenhum era santo. Nenhum era perfeito.
Havia defeitos.
Mas eles viviam os defeitos, as raivas e a necessidade de vida.
Não de forma banal. Nem menos alegre. Mas produtiva.
Eles sabiam que poderiam morrer a qualquer hora.
Por qualquer besteira.

Os três eram preocupados com o social.
Com a dignidade.
Contra as injustiças.
E lutaram por isso.
E as barreiras que encontravam eram maiores. Não eram apenas fragilidades por descaso e indiferença. Eram fragilidades físicas.
Mas eles iam adiante. Como o mar. "Como o sangue."

"O dever da mudança de vida, recordando a passageira, transitória, efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte."

E depois de uma perda, uma folia e um filme, eis que minhas cinzas se mostraram como as velhas chagas que me acompanham.
A eterna preocupação com a vida... Mesmo que, muitas vezes, farto dela.
Os mesmos sonhos.
Todos ainda juntos, mas numa necessidade de fazer diferente.
De seguir com a mesma cabeça, em outro corpo.
Não ser mais o mesmo.

Eis aí o meu sacrifício.
Porque pra uma pessoa que tem dificuldade com mudanças... Mudar já é o sacrifício.

E sei que a conversão não deve passar pela necessidade de parecer ou me sentir mais vivo. Mais alegre. Mais aceito.
Passa por ser mais sangue.
Mais mudança.
Menos cinza e mais Cinzas.