Nos idos do meu curso de Comunicação Social, Ivan Proença era o carrasco
da FACHA. Para os ainda adolescentes e jovens, o ex-militar, com sua
postura severa e carrancuda, era sinônimo de medo e pressão. Professor
de Formação da Cultura Brasileira e Cultura Brasileira Contemporânea,
Ivan também era contrário àquilo que boa parte dos alunos prezavam como
'expressão artística', o que dificultava a simpatia e a comunicação.
Embora ouvíssemos histórias, não conhecíamos nosso professor além
daquela capa.
Na época, minha turma foi uma das primeiras a ter
100 por cento de aprovação na cadeira que ele lecionava, motivo para
elogios no fim do curso. A relação foi amenizada ali, depois do esforço
coletivo. Anos depois, lembro da grata surpresa de ver o professor
dançando ao som de Beatles, em um show da banda cover de outro
professor. Mas a real influência de professores como Proença (e dos muitos colegas)
só foi sentida com o tempo... Afinal, foi lá que, como todo estudante de
Comunicação, abri a cabeça pro mundo e pro próprio Brasil.
Ontem,
com a estreia da série 'Os Advogados contra a Ditadura' e a divulgação
do filme 'Os militares que disseram não" - ambas da Caliban Produções Cinematográficas, Ivan voltou para a vida de
muitos 'fachistas', lembrando aos que um dia o julgaram um carrasco que
ele sempre foi o oposto. Ali, ele aparece como o então capitão do
Regimento
Presidencial que, no dia 01 de abril de 1964, cercou e apontou as armas
de sua tropa contra golpistas que encurralaram centenas de estudantes e
trabalhadores no
Largo do CACO. Preso logo depois do feito, Ivan foi levado para a
Fortaleza de Santa
Cruz e, depois, para o Forte Imbuí. Deixou as Forças Armadas, foi
cassado e perseguido por vinte
anos.
Como diria o ficcional e também professor Dumbledore (o Pop para descontrair o texto): "É
necessária muita audácia para enfrentar nossos inimigos, mas maior
audácia para enfrentar nossos amigos." Embora hoje os golpistas não
sejam considerados amigos, na época era bater de frente contra o próprio
lado para defender o que se acha certo. Isso não é fácil... E, seguindo
as palavras do jurista Sobral Pinto, citado no documentário: Não é
coragem... É capacidade de se indignar.
Ontem e hoje, por
diversos motivos, colegas agradecem pelo fato de terem sido alunos
de Ivan Proença. Eu vou além... Muitas vezes visto como correto demais,
carrancudo demais e indignado demais, peço apenas para que um dia possa
ter a mesma audácia.