domingo, 19 de julho de 2009

Saúde para quem precisa...

Hoje passei um dia um tanto agoniante.

Peguei uma gripe.
De início, pensei o que todos pensam ultimamente: só falta ser a Suína.

Fiz mais ou menos o orientado.
Esperei pra ver como evoluía, só me auto-mediquei uma vez, pra conseguir dormir (o que não é orientado) e, notando que a gripe era realmente forte, procurei uma clínica. Fui a uma particular, bancada pelo plano de saúde. Coisa pra poucos nesse país.

Chegando lá, emergência lotada. Apesar de febril e com o corpo mole, cheguei sozinho e entrei em uma fila. Alguns minutos depois, notei que a coisa não andava e fui me informar. Na verdade, não havia fila, mas o bom e velho sistema de senhas. (Duas constatações: 1- havia fila com sistema de senha. Brasileiro realmente não pode ver alguém parado que forma fila; 2- sistema de senha é sinônimo de "aqui a coisa realmente costuma demorar").

Cerca de cinco pessoas estavam na minha frente. Cinco pessoas para serem atendidas na recepção e adiantar a papelada. Coloque a burocracia normal aliada à minha rabugice e à febre que estava sentindo e imagine a situação do Rabugento.

Depois de atendido na recepção, fui esperar o atendimento médico. Depois de alguns nomes, me chamaram. Um enfermeiro sentado em um corredor pediu informações, mediu minha temperatura e minha pressão. Ao fim, alertou... '- Sou enfermeiro e estou apenas adiantando as coisas. Você tem que esperar o atendimento clínico.'

Voltei para a sala. Bebi água. Troquei de cadeira. Fui ao banheiro. Troquei de cadeira novamente... E nada de ouvir meu nome.

Umas duas horas após eu ter chegado na emergência, veio o atendimento clínico. E fui encaminhado para exames e soro. Chegando lá, diversos rostos conhecidos da recepção. Com a gripe, todo cuidado é pouco e todos estavam fazendo exame de sangue, raio x e tomando remédio na veia. Preparei-me para mais espera.

Colocaram o soro e não fizeram a retirada do sangue. Fui observando outros casos e descobri que as aprovações dos planos estavam demorando e, por isso, não recolheram meu sangue. Comecei a melhorar da febre, mas a fome começou a apertar. Estava apenas com o café-da-manhã.

Uma hora depois de estar no soro, fiz o exame de sangue e fui levado para fazer o raio x. Desligaram o soro, entregaram em minha mão e trouxeram uma cadeira de rodas.
Tratamento VIP, pensei...

A sensação foi estranha. Depender de alguém para te levar... Cheguei lá e, mais uma vez, esperei. Deixaram-me em um corredor, na cadeira. A médica fez a chapa e, ao sair da sala do raio x, me colocou de novo no corredor. De frente para um senhor, que também esperava... Em estado deplorável. E fiquei por ali. Vendo macas, com pessoas em estado muito pior que o meu, e sem conseguir encarar o homem em minha frente, entubado, também em uma cadeira de rodas. Recebi o exame do raio X e a recomendação de aguardar, pois o maqueiro viria me buscar. "Eu posso andar...", pensei. Mas era melhor seguir as orientações. E fiquei ali... Com o envelope do raio X na altura da cabeça, tapando qualquer contato visual com o paciente à minha frente.

Demorou, mas o maqueiro chegou, falando meu nome pelo rádio. Atendimento sofisticado.
Fui levado para a emergência mais uma vez, para voltar ao soro. Vendo que acompanhantes de outros pacientes circulavam pela emergência, resolvi me salvar... Liguei para casa e pedi à minha mãe que me levasse alguma coisa para comer. E avisei: ainda deve demorar.

Por sorte, a médica que me atendeu na volta abriu um pouco mais o soro e este correu mais rápido. Até que o saquinho do soro esvaziou e eu, com a agulha na veia da mão, esperei. A médica que havia me atendido fora embora e outro cuidaria do meu caso. E de outros, que continuavam esperando.

De repente surge minha mãe no atendimento, dizendo que não poderia ficar ali. "Como não? Tanta gente por aqui..." E minha mãe informa que uma médica não a deixara entrar, muito menos com comida. "Que ótimo... Melhoro da febre e passo mal de fome", pensei. Pedi a minha mãe que informasse que o soro já havia acabado. Minha mãe se vira para a primeira pessoa que passa com roupa que sugerisse ser do hospital: "-Acabou aqui, hein". Ninguém dá muita bola. E subitamente, minha mãe se assusta "- Ih, a médica!... Tenho que ir..." E saiu. Surge, então, uma médica, que ainda não havia visto por ali, expulsando todos os acompanhantes. "Ih... Expulsei todos os acompanhantes com a minha fome", pensei.

Por fim, surgiu o médico que me atenderia... Para atender outra pessoa. E informou que meu exame de sangue não saira e que eu teria que esperar com o soro, pro caso de sair algum resultado inesperado e eu precisar de outra medicação. "Isola...".

Mais de cinco horas depois de entrar no hospital, fui liberado. Por causa de uma gripe... Aparentemente, comum.

Hoje passei um dia um tanto agoniante... Dando graças a Deus de poder ser atendido em um hospital que tem soro, que tem cadeira de rodas, que faz exame de sangue e que, apesar de algumas ignoradas, de muita espera e burocracia, ainda te trata com algum respeito.

E mais...
Dando graças a Deus de não depender disso sempre, tendo alguma doença mais grave.
Dando graças a Deus de não depender da Saúde Pública.
Dando graças a Deus de não precisar ser paciente sempre, com a minha falta de paciência.
Dando graças a Deus de ter Saúde nos outros dias do ano!


O que não dá para entender: na clínica não dão atestado. Não, não quero matar trabalho involuntariamente... Mas é inevitável que amanhã ainda me sinta um pouco mal. E o que faço? Vou ao trabalho passando mal e espalho a gripe por lá? Falto e sou descontado? Vou a outro hospital, mais uma vez, com os exames, mostrando que estou doente e pedindo um atestado? Vai saber...

sábado, 4 de julho de 2009

Verdades e vergonhas

A política é podre.
E o Brasil vai de mal a pior.

Disso todos já sabem... Há anos.
E todos se acomodaram. Quero dizer, nem todos.
Segundo os jornais e o blog de Tico Santa Cruz, "apenas 26 pessoas no Rio de Janeiro e cerca de 50 em São Paulo foram para as ruas pedir" o afastamento de José Sarney da presidência do Senado.

Sei que muitos dirão o que eu disse a mim mesmo... Estes protestos em dias úteis não funcionam. Quem pode protestar às 13 horas de uma terça, quarta ou quinta-feira? Mas aí eu pergunto: quem iria protestar em um sábado? Quem "perderia" o domingo protestando? Mais vale perder o dinheiro do imposto que perder o domingo... Ao menos, é o que a maioria dos acomodados pensa.

Bem, eu também não fui ao protesto... Não sei se iria no fim de semana. Não por acomodação, mas por falta de motivação. Ando muito desiludido e desanimado com o outro. Já tentei tantas vezes fazer com que pessoas próximas agissem, ao invés de só se indignar. E a resposta foi sempre a mesma: dezenas de palavras de apoio, centenas de discursos revoltados e quase nenhuma ação. As pessoas concordam, mas não fazem. É como se emocionar com o clipe de Earth Song do Michael Jackson (postado recentemente no Teorias Cobalísticas - http://teoriascobalisticas.blogspot.com/2009/06/e-quanto-nos.html), e logo depois comprar um colar de marfim.

Quando vejo estes números, fico mais desanimado... Talvez o problema esteja realmente em mim, que vejo a parte vazia do copo e não a parte cheia. Mas acho também que a sina da humanidade agora seja essa: levar a vida com a barriga e ver no que vai dar. Alertar, perceber, se conscientizar, mas seguir errando, sem atitude ou aprendizado.

Deixo aí um vídeo que vi no blog de Tico Santa Cruz.
Engraçadinho... Mas que remete à vergonha que vivemos e que preferimos fingir que não é nossa.



(Vale lembrar que o casteleiro Edmar Moreira foi absolvido pelo Conselho de Ética da Câmara... E a maior piada não está na absolvição. Mas no fato de terem um Conselho de Ética.)