sábado, 24 de abril de 2010

Exército de reserva

Depois de muito afastado da minha formação e de concursos de nível superior, resolvi fazer uma prova. Fiz a inscrição e, influenciado por uma amiga concurseira, procurei um curso especializado em Comunicação Social.

Como tempo e dinheiro estão diretamente ligados e, quase sempre, não temos, só pude me inscrever para um módulo do curso. Revi, reaprendi e aprendi (porque muita coisa mudou desde que me formei e porque nem sempre o conteúdo todo é passado ou absorvido) noções de Teoria da Comunicação, de Psicologia da Comunicação e de Sociologia da Comunicação.

Não precisa dizer que a Sociologia da Comunicação foi a mais interessante pra mim. E dentro desta, um conceito de crise pós-moderna foi passado. Um conceito que muitos já vivemos ou presenciamos. E, dentro do conceito, me chamou atenção o que a Sociologia deu o nome de "Exército de Reserva" (mesmo nome dado por Marx após a Revolução Industrial, mas, acredito eu, hoje num sentido além)...

Foi irônico estar em uma aula preparatória para um concurso, concorrendo a uma vaga e possível cadastro 'de reserva', e ouvir tais conceitos. Talvez por isso, o professor despendeu um bom tempo neste ponto, embora não seja matéria de prova.

Exército de reserva é a população apta a trabalhar, mas que não encontra trabalho. Em uma ambientação pós-moderna... São aqueles que fizeram um segundo grau técnico, aqueles que têm nível superior, MBA, pós-graduação e assim por diante. Aqueles que julgavam que uma formação superior ou especialização iria culminar na contratação certa e na estabilidade.

E vou além... A meu ver, este exército não inclui apenas desempregados, mas aqueles que estudaram para ser alguma coisa, hoje trabalham com outra e continuam procurando algum emprego "na área". Ou mesmo aqueles que mudaram de sonhos, mas também não conseguem seguir na outra direção. E, claro, os instáveis. Aqueles com contrato temporário, que nunca sabem o dia de amanhã e pulam de trabalho em trabalho. Os informais do nível superior.

Outro conceito, de uma realidade muito mais cruel, foi colocado logo depois: a dos "Inúteis ao mundo". Os pobres coitados que não tiveram nem o direito de sonhar e hoje, sem estudo, não conseguem nada. (O exército de reserva, que não tem para onde correr, pega as vagas que seriam destinadas a eles.)

Daí surgem várias outras questões atuais: qual o salário justo para a função que vou desempenhar? Se eu não aceitar determinada condição, algum outro vai aceitar? Com esse trabalho poderei ter condições de me especializar mais... Pra área que não estou conseguindo experiência. Valerá a pena? Vocação deve ser levada em consideração? Quantas horas de trabalho terei que cumprir, sem receber hora extra, para garantir minha vaga? Será que devo acreditar que sou "qualificado demais" para tal vaga? Será que não sou contratado porque vou pedir demissão assim que outra coisa melhor surgir?...
Eis aí a crise pós-moderna. Eis aí o desespero de estar concorrendo com milhares/milhões por um lugar ao Sol. Eis aí o resultado do Capital, do desenvolvimento tecnológico, do Estado Burguês. Eis aí o resultado da falta do controle de natalidade. Eis aí o grande desafio do Homem do século XXI. Eis aí eu falando como um presidente de DCE. Eis aí eu comprando uma boina e deixando a barba crescer...

Panfletário novamente... Mas, cá pra nós, não há como não questionar.


Acho que assitir à aula foi bom para retomar estudos e péssimo para a autoestima. Principalmente se eu levar em consideração que o tempo até a prova do concurso era curto (a prova é semana que vem) e que o trabalho e a falta de motivação deixariam o estudo de lado. E assim, mesmo empregado (e dando graças a Deus por isso), seguirei tentando sair deste exército, no qual já devo ser capitão.

OBS: Achei uma das imagens em um site que trata melhor do assunto, sem as minhas colocações de leigo: http://troppos.wordpress.com/2008/05/18/o-exercito-de-reserva-qualificado-na-era-do-desemprego/

4 comentários:

Anna Cecilia disse...

Capitão Rabugento!(até que combina Rs) SENTIDO!!!

Não deixe a barba cresce, não compre uma boina e não fique com auto-estima lá embaixo ... a guerra ainda não acabou! O capitão só perdeu algumas batalhas e com certeza já venceu muitas até aqui e ainda vencerá muitas outras, eu tenho certeza! O capitão Rabugento é bom de planejamento e de soluções rápidas! O capitão é inteligente e é um líder em potencial! Não se deixe abater!

Descansar...

ASS: General Antisocial

Fêr disse...

Como sempre um ótimo texto, meu amigo!

é complicado mesmo, a gente sabe o quanto... estuda e estuda... trabalha e trabalha... mas tb acho que o futuro sempre nos reserva coisas boas!

Que venham outros concursos, tem que fazer um monte mesmo, ganhar experiencia que uma hora vai. E continuar estudando e trabalhando enquanto isso, hehe.
Beijo

clarissa disse...

Muito boa essa análise que você fez sobre os informais do nível superior. Também incluo aí os PJ, ou os sócios-minoritários (em vez de assinar carteira, as empresas dão algumas cotas aos funcionários. Como sócios, não têm férias ou décimo-terceiro). São pessoas sem nehuma garantia legal do trabalho, que têm de cumprir metas cada vez mais inalcançáveis.
Um beijo grande.

Ludmila disse...

Simplesmente adorei seu texto, Alan. Confesso que sinto um medo - muitas vezes paralisante - diante de tais questões. Mas não podemos parar, sigo em frente, dou um sorriso, digo que estou bem e é isso aí. A cada dia vejo coisas mais absurdas acontecendo, vejo sonhos despedaçados e pior: desperdiçados. E aí eu olho pro Cara lá de cima e pergunto quais são Seus propósitos, seus planos pra mim, pra vc, pro mundo. Porque como está, não vejo luz. Quero ver, anseio por ver, forço os olhos, aguço o foco, mas não temos certezas! É como se pedissem fechem os olhos, atravessem essa ponte e confiem. Mas se cair, caiu, né? Enfim, concordo com as meninas também, perder várias batalhas não significa perder a guerra. E o guerreiro luta. Bota a boina style e pedir pra Ele ter piedade de nós. Sim, hoje tô especialmente pessimista, mas passa, sempre passa. Resta ao menos o alento de saber que não sou a única nessa. Um beijão! Lud