sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Brincando com meu delírio...

Ele era mesmo assim... De Lua.
Não virava a mesa, não era impulsão. Era intuição.
A Lua dele era a dos poetas. Era a noite, o mistério, a brandura.
Ele era dos seres que se esgueiram por esquinas, perdidos, com ou sem estímulo químico. Desses que, pálidos, nascem depois que as ruas se esvaziam e morrem quando o primeiro raio atinge o asfalto. Ele era uma parcela de saudade, um quê de exclusão e um bocado de solidão.

Foi em um dia de Sol, daqueles que causavam urticária, que Ele a conheceu.
Ela era mesmo assim... De Sol.
Mas Ela não era irritação. Era simples oposição.
O Sol dela era o dos exploradores. Era o dia, a exposição, a expansão.
Ela era dos seres que mergulham por praias, achados, com muito filtro solar. Desses que, bronzeados, nascem já correndo ao primeiro sinal de luz e morrem no primeiro bar. Ela era uma parcela de autoconfiança, um quê de aventura e um bocado de experimentação.

O tempo passou... E quis o destino que o amante da Lua se encantasse pela amante do Sol.
Não era interesse vil, mera intenção.
Era admiração.
Era transmutação.
Ele, que nunca escolhera a manhã como musa, encantado por um ser que queimava...
Mas a natureza já havia deixado o recado na pele.
Como o lobo e a águia que não poderiam se encontrar.

Dias e noites eram vividos, então, pelo sonho de ser apenas dia.
Ele daria as noites e a Lua para ser mais Sol... Só para se parecer mais com Ela.
Quem sabe assim Ela também se encantaria por Ele.
Mas a luz do Sol não deixava que Ela visse o esforço que Ele fazia para ser mais Ela.
E Ele vivia se alimentando do delírio de ser dia, sendo noite.
Sem declarações de poeta, sem a atração de seus próprios mistérios, sem a luz branda e natural dos que se banham com a Lua. Sem aquilo que Ela também poderia admirar.

Um dia, Ela partiu para uma longa viagem... 
Foi em busca de luz e encontrou o Sol.
O Sol, mais firme, radioso e o sonho de quem queimava.
E quis o destino que Ela se entregasse de uma vez aos braços do Sol.
E Ele, que ficara em terra, não teve mais chance de exibir sua luz.

Hoje, Ele vive mais perdido que os seres que se esgueiram pelas esquinas junto da Lua.
Porque a Lua, desprezada, não o reconhece mais como amante.
E o deixa desfrutar apenas momentos limites a seu reino noturno...
Hoje, Ele vive apenas o nascer e o pôr do Sol.
Na esperança de que, um dia, aquela por quem se encantou passe, entediada, pendurada ao braço do Sol.
Quem sabe, Ela o veja e o sinta.
Quem sabe, Ela o reconheça e sorria.
Quem sabe, Ela ameace soltar o braço do Sol.
E Ele brilhe, mais uma vez, à luz de seu delírio.

Nenhum comentário: