quarta-feira, 21 de julho de 2010

Como nos velhos tempos

Todos os dias eu sou obrigado, em função do trabalho, a acompanhar diversos jornais na televisão. É inevitável sentir que as coisas estão piorando.

Caso Bruno: um jogador de futebol rico e bem-sucedido, capitão de um dos maiores times do Brasil, é acusado de mandar matar uma mulher. A morte é brutal. Os jornais a chamam de ex-namorada, mas ele afirma que só esteve com ela por vinte minutos. Ela aparece como uma oportunista, uma caçadora de pensão. Os dois tiveram um filho... Uma criança que crescerá sabendo que o pai não a quis, a mãe - que morreu indiretamente pelas mãos do pai - engravidou em uma orgia. A avó não cuidou da mãe quando deveria, mas agora cuida dela, o neto. A dúvida ficará: Por amor ou busca de pensão? E o avô não poderá chegar perto, pois é acusado de Pedofilia. Ah, claro... E pra melhorar a árvore genealógica, ainda existe um tio que está preso por estupro.

Caso Wesley: Um menino de 11 anos é ponto de resistência na comunidade em que vive e vai à escola. Em sala de aula, recebe uma bala perdida e morre. Os pais e moradores acusam a Polícia. A Polícia afirma que não houve operação na região e culpa os bandidos. No jogo de empurra, mais uma criança é enterrada. E nem vapor do tráfico ele chegou a ser...

Caso Mércia Nakashima: Uma jovem advogada desaparece. Dias depois o corpo é encontrado em uma represa. A família culpa o ex-namorado da vítima, um sujeito agressivo. O acusado se defende e diz que nada fez. Mesmo que seja o único suspeito... E o mais triste da história é que, para chegar a alguma conclusão, os maiores detetives do caso foram os membros da família.

Nos últimos dias, vimos a morte do filho da atriz Cissa Guimarães, Rafael Mascarenhas. Uma morte trágica e lamentável, sem dúvida. Alguns questionam o fato dos jovens estarem andando de skate em um túnel interditado... Mas o fato é que carros certamente não deveriam circular por lá. E circularam. Alguns dizem que em alta velocidade. A investigação poderá dizer melhor... Mas falando em investigação, onde estava o poder de Polícia na hora de fiscalizar o túnel? Ah, não era dever da Polícia em si. Mas por que policiais que pararam um carro na saída de um túnel interditado – por mais que estivesse “escuro” e que não desse para ver o carro em péssimas condições – deixaram os infratores seguir? E a Prefeitura? Por que interditou a via de acesso ao túnel e não interditou o retorno que dava acesso a ele? Por que não fiscalizou o local, seja para carros, seja para skatistas?

Isso para falar um pouco dos casos que estão em mais destaque nos últimos tempos. Somamos aí centenas de casos não resolvidos, esquecidos, arquivados, julgados, absolvidos ou condenados.

O que podemos concluir?

Entrei no blog para falar de como precisamos de paz. De como a vida anda pouco valorizada. E lembrei de uma música que me faz querer tempos mais calmos... Um saudosismo de uma época que não vivi. E que nem deveria ser melhor em tudo, mas um tempo que deveria ser de mais amor, como a música coloca.

Um dos autores da música é o Chico Anysio. Resolvi entrar no blog dele, para ver os textos, e me deparei com um questionamento sobre a morte de Rafael que fez o meu questionamento ir além.

Vivemos um tempo triste. Pessoas não sabem para o que viver.
Chico Anysio questiona Deus.
Eu questiono o Homem.

Não julgo crenças ou a falta delas. Não julgo questionamentos, pois são necessários. Acho que todos têm direito de acreditar, criticar e questionar o que bem entender. Nem me julgo mais por ter essa posição.

Mas, como comentei por lá...
Acho que o Homem ganharia mais se parasse de olhar para o céu pra criticar, questionar, lamentar ou pedir. Acho que o Homem ganharia mais se parasse de olhar também para o próprio umbigo. Se o Homem olhasse para o lado, tudo estaria melhor.

Palavras tornam as coisas simples e piegas, né? Falar é fácil..
Também acho. Eu esbravejo sempre que algo um pouco pior acontece comigo.
Mas é aos poucos que a gente aprende.
E uma coisa eu posso dizer... Procuro não fazer nada que atinja, mesmo que de leve, outra pessoa. Para mim, é o pior sentimento, saber que outra pessoa está pior por minha causa. Sem demagogia. E ter consciência social, saber que existem pessoas iguais em todos os lugares, faz a gente ser um pouco mais humano e menos bárbaro.

Assim, olhando para o lado, pessoas parariam de se vender a qualquer preço. (e veriam o quanto isso é ridículo)
Pessoas parariam de comprar as outras a qualquer preço.
Pessoas não seriam descartadas como lixo.
Pessoas respeitariam mais as regras sociais, por saber que além delas existem outras. E que as regras mais básicas, as mais racionais, estão aí para conviver, não para limitar.
Pessoas fariam o trabalho para que foram designadas. Veriam a importância do trabalho para os outros.
E, ao fim, não haveria o fim de doenças, distúrbios, desvios, violência, porque isto também é humano, mas haveria bem menos tragédias para ver e ler nos jornais.

Deixo aqui a música do Chico (o Anysio, não o Buarque) que me inspirou.
Se puderem, ouçam no vídeo que encontrei no Youtube, que dá mais clima.
Sei que a música em si - além do paz e amor – não fala diretamente disso tudo.
Mas mostra um Rio mais poético, menos violento. E isso - por si só - já emociona.
Já faz a gente querer mais... Mais paz.

Rio Antigo (Como Nos Velhos Tempos)
Alcione
Composição: (Nonato Buzar - Chico Anysio)

Quero um bate-papo na esquina
Eu quero o Rio antigo
Com crianças na calçada
Brincando sem perigo
Sem metrô e sem frescão
O ontem no amanhã

Eu que pego o bonde 12 de Ipanema
Pra ver o Oscarito e o Grande Otelo no cinema
Domingo no Rian
Me deixa eu querer mais, mais paz

Quero um pregão de garrafeiro
Zizinho no gramado
Eu quero um samba sincopado
Taioba, bagageiro
E o desafinado que o Jobim sacou

Quero um programa de calouros
Com Ary Barroso
O Lamartine me ensinando
Um lá, lá, lá, lá, lá, gostoso
Quero o Café Nice
De onde o samba vem

Quero a Cinelândia estreando "E o Vento Levou"
Um velho samba do Ataulfo
Que ninguém jamais gravou
PRK 30 que valia 100
Como nos velhos tempos

Quero um carnaval com serpentinas
Eu quero a Copa Roca de Brasil e Argentina
Os Anjos do Inferno, 4 Ases e Um Coringa
Eu quero, eu quero porque é bom

É que pego no meu rádio uma novela
Depois eu vou à Lapa, faço um lanche no Capela
Mais tarde eu e ela, pros lados do Hotel Leblon

Quero um som de fossa da Dolores
Uma valsa do Orestes, zum-zum-zum dos Cafajestes
Um bife lá no Lamas
Cidade sem Aterro, como Deus criou

Quero o chá dançante lá no clube
Com Waldir Calmon
Trio de Ouro com a Dalva
Estrela Dalva do Brasil
Quero o Sérgio Porto
E o seu bom humor

Eu quero ver o show do Walter Pinto
Com mulheres mil
O Rio aceso em lampiões
E violões que quem não viu
Não pode entender
O que é paz e amor

5 comentários:

Boo disse...

procure pela música "sem mandamentos" do velho oswaldo montenegro........
faz a gente chorar por um mundo que desejamos liricamente mas não vivemos...
bjs

teoriasrabugentas disse...

Sem Mandamentos... Essa já foi até tema de encontrão... ehehehe. Quando reencontrar com o Pedrão, peça pra ele cantar pra você.

Léo Muniz disse...

Tem também a música "Eu quero paz" dos Primos, um pouco mais recente e agressiva. Concordo plenamente com tudo que você disse e me policio todo dia para ser melhor, para não desrespeitar mesmo aquele que me desrespeita.
Mas a sociedade incita nossa violência e as guerras que compramos por ideais mesquinhos. É realmente um exercício diário.
Triste é sentir que, por acaso, hoje apenas sobrevivemos. A vida vale tão pouco que viver é luxo para alguns poucos que eu não sei onde estão.

Boo disse...

OM rules!!!
e "Eu quero apenas" é um clássico!!

Dany Braga disse...

muuuito bom!!!