segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Meu grito pra ti, mudez...
Quantas palavras são necessárias?
Nunca soube escolher palavras.
Sou mudo em boca e prolixo em mãos.
Quando escrevo, elas surgem fácil.
Em falas perfeitas de personagens espelhados.
Mas quando espero virar personagem no momento perfeito
Não há fala.
Só palavras patéticas. Poucas e banais.
Por vezes tenho a chance de escutar minha voz.
Quase sempre concluo que ser moderado vem para o bem.
Minha voz soa truncada. Arrastada.
Desinteressante.
E decido ser a imagem.
No entanto, há uma coroa por trás da cara.
O não falar soa como real desinteresse.
O espinho que rasga a testa e suja a imagem.
A ausência de verbos, de adjetivos.
O silêncio e uma presença que perde a finalidade.
Queria poder dizer... Hoje, pelas palavras que domino.
Sem conseguir dominá-las.
Num grito...
Talvez não seja eu o homem razoável por trás dos textos.
Talvez escolher as palavras seja falso.
Mas também não sou eu o homem calado ou embolado... Ao lado.
Esse é parte de mim.
Mas sou mais que ele.
Não iludam-se com o escritor.
Mas não desistam do observador.
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Um comentário:
Hallans! Lembrei do poerma do Ferreira, Gullar. Traduzir-se.
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
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