quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Reflexão miscelânica

Caetano Veloso é conhecido em Portugal.
Mas quantos brasileiros conhecem Rui Veloso?
Se perguntar o nome de um ator português que não atue em uma novela da Globo, alguém vai saber?
E argentino? E uruguaio? E angolano?
Brasileiro só ouve kuduro porque está na abertura da novela. E, mesmo assim, um kuduro que veio de um sucesso comercial portorriquenho. Um jabá.

Tenho uma nova página no Facebook, o Miscelânea Rabugenta (propaganda gratuita), que tem por meta divulgar e refletir sobre novos artistas, músicas antigas, diferentes ritmos, culturas ou músicas simplesmente divertidas. Hoje, ao voltar a uma música angolana, me deparei novamente com a reflexão (rasa) sobre o imperialismo cultural.

Todo mundo sabe, debate, reclama, se opõe ao imperialismo cultural americano.
É sabido que o mundo vive há anos uma idolatria da cultura americana. Ou, da cultura de língua inglesa, numa maneira mais abrangente.

Não gosto de levantar bandeiras... Não quero impor gostos ou dizer o que está certo ou errado.
E não acredito que seja apenas por educação que a pessoa goste de rock, em detrimento ao fado, ao tango ou mesmo ao samba. Mas não deixo de ficar incomodado quando esbarro no desinteresse alheio. Quando, mesmo sem conhecer ou saber do que se trata, alguém diz que não quer ouvir determinada música, ver um filme, ler um livro ou conhecer qualquer traço de determinada cultura. É o mesmo que dizer que não se gosta do doce sem nunca ter experimentado (eu sou meio chato pra comida e entendo que o sentimento para quem oferece deve ser o mesmo).

Independente da questão (que não fica apenas no âmbito cultural), o incômodo rabugento de hoje passa pelo risco de nos tornarmos americanos. Sempre tive fascínio pela cultura brasileira e a propago com afinco. Gosto de ver um gringo fascinado com um sambinha, um chorinho, dançando um forró desajeitado, comendo uma carne seca ou falando um bom Tupiniquim. Mas sei também que há de se ter cuidado. Não podemos esquecer do intercâmbio. E não podemos nos furtar do interesse pelo que vem de fora.


Não sabemos nada sobre nossos vizinhos.
Os cômodos vão rebater e dizer que o Brasil é que é excluído do resto da América Latina, por enfrentar a "barreira da língua". Mas o que sabemos dos países que falam português?
Não sabemos nada, não queremos saber. Mas queremos nossa brasilidade pelo mundo... Queremos Gisele nas passarelas, queremos as Havaianas e os biquinis nas praias de Ibiza e queremos ver filmes americanos dirigidos por brasileiros. Queremos a afirmação. E embora todo intelectual critique e sinta-se envergonhado de ser representado internacionalmente por um folhetim, todos dão uma olhadinha na TV quando estão fora do país, pra ver se não tem uma novelinha no ar. No fundo, gostam de se sentir 'em casa'.

Que novelas, filmes, músicas, livros, obras de arte, artistas, comidas, técnicos, esportistas e hábitos sejam exportados. Sou o primeiro a querer vê-los difundidos pelo mundo. Mas que o mundo - que não está apenas na "América" ou em ilhas britânicas -  também chegue ao Brasil. Que o Brasil esteja aberto para o grupo de soul português, para a cantora tradicional de Cabo Verde, para o semba de Angola, o cantor pop maluco da Coreia e o cinema premiado da Argentina. Que a miscelânea cultural possa abrir a cabeça dos brasileiros e que o mundo possa entender melhor o Brasil. E que as lágrimas de nosso orgulho exacerbado não embaçem nosso olhar... Como acontece por aí.

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