segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Em choque com a nova ordem da noite

Matriz, Casa Rosa, Sacrilégio, Carioca da Gema, Nuth, 00, Fosfobox... São muitos nomes.
E agora o Teatro Odisseia também fechou as portas.

- Ah, esses donos de bares e boates... São todos uns irresponsáveis!
-  Sim... O pior é que eles jogam com a vida das pessoas!
- Pois é. E só pensam em ganhar em cima! Mercenários!

Engraçado ouvir e ler isso, dentro e fora das redes sociais, de pessoas que, há duas semanas, simplesmente não se importavam. Pessoas que, há duas semanas, gastavam tudo em uma só noite de diversão. Que não reclamavam muito de preços e achavam ótimo a boate cheia. Casa lotada só era ruim quando elas estavam de fora.

Depois que a Kiss pegou fogo, todos viraram responsáveis.
Todos concordam que a vida é mais.
Que o perigo é iminente em todos os lugares.
Que o certo é prevenir.

Não estou aqui para justificar irregularidades ou afirmar que as normas devam ser descumpridas... Pelo contrário. Afinal, quem quer rir, tem que fazer rir. Se o investidor escolheu este negócio, caro e instável, tem que seguir as regras do jogo. Mas o moralismo que paira em certos discursos chega a ser infantil de tão hipócrita.

No fundo, todos dão graças a Deus do 'choque de ordem da Night' ou a 'patrulha das baladas' estar acontecendo perto do Carnaval, época em que os blocos estão na ativa e a folia é garantida nas ruas. Todos, no fundo, esperam que logo depois do Carnaval a poeira já tenha baixado. Afinal, tem o aniversário, a volta às aulas, a celebração com os amigos do novo curso ou a necessidade de conhecer a pessoa certa e começar o novo namoro, depois da semana de pegação geral.


Não, não sou a favor deste choque de ordem repentino.
E não é apenas porque sou rabugento.
A verdade é que ele representa a ação desesperada de autoridades que não cumprem deveres e, no primeiro sinal de polêmica pública, incitada pelos meios de comunicação, optam pelo radicalismo para mostrar o serviço que não prestaram até então. É o esconder a poeira pra baixo do tapete. Vai que um jornalista investigativo queira fama e apareça de surpresa para fiscalizar - numa inversão de papéis - aquela boate sem alvará? Ou aquela que está funcionando há anos sem saída de incêndio?
É a ação de um governo que, propositalmente, fecha os olhos para que as casas existam, o turista se divirta, o cliente gaste, o dinheiro circule e as cidades, de maneira torta, prosperem. Autoridades que sabem que a burocracia é grande, as adequações são muitas e, ao invés de agilizar processos ou colaborar para o cumprimento, preferem não atrapalhar, não tomar parte ou fingir que não sabiam.

E no fim, o que realmente sobra é isso aí...
O mercado antes estimulado, agora é punido.
A autoridade que fez errado, impõe o certo a qualquer custo, sem medidas paulatinas. Esta, é claro, não paga por nada, porque o dela está garantido pelos impostos.
O dono do espaço, pouco ou muito irregular, fez errado e fica com parte considerável do prejuízo.
Mas quem realmente paga o pato é o resto do mercado.
São produtores de festas, divulgadores, DJs, fotógrafos, recepcionistas e todos que realmente dependem da rede para sobreviver (não aqueles que fazem para ganhar um extra). Todos que brigarão pelos espaços que não foram fechados para poder pagar as contas. Todos que tiveram que se virar, que serviram a muitos enquanto foram necessários, e agora não formam uma classe e estão ameaçados pela falta de trabalho. E, ao fim, ainda são obrigados a ouvir a concordância daqueles que outrora se divertiram. Um 'bem-feito' por uma punição da qual eles são as maiores vítimas.

O que resta a este rabugento, que não forma opinião e não tem autoridade, é desejar sorte e mais oportunidade aos amigos que estão neste barco.
Que a tempestade realmente passe logo.

E a todos que hoje dão exemplo de responsabilidade... Não esqueçam de beber com moderação, deixar o guarda multar, estacionar na vaga certa, comprar o dvd original, o cd oficial, ver a série pela TV, pagar a inteira do espetáculo, não furar nenhuma fila e usar o banheiro químico neste Carnaval!

OBS: Não entrei no mérito teatro e afins... Até porque, a maioria dos teatro e espaços culturais fechados são da Prefeitura, o que só atesta onde mora boa parte do problema.

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