terça-feira, 18 de maio de 2010

O tigre e o tragadão

Ontem, deixei a TV ligada no Programa do Jô, enquanto preparava o sono. Não prestava a menor atenção... Não tinha muito o que assistir, a TV do quarto não pega a programação fechada, mas deixei ligado assim mesmo... Pelo som, pelo barulho.

Chegada a hora de dormir, fui desligar a TV... Antes de me desligar do mundo, percebi que a entrevista era com a Cissa Guimarães, que falava da peça teatral que está fazendo, sabe-se lá onde. Ela definia o enredo da história, colocando que a personagem era uma mulher famosa que se surpreende durante uma entravista em que a jornalista, ao invés de fazer perguntas óbvias, questiona sobre qual a última vez que ela dera uma gargalhada. Não uma gargalhada qualquer, uma boa gargalhada. E ela não sabia responder...

Fui dormir com isso na cabeça. Muitas vezes não sabemos qual foi a última vez que algo nos fez chorar de rir. Rimos todos os dias. Mesmo eu, que sou rabugento... Mas são risos espaçados, soltos, perdidos. Às vezes até gargalhamos. Mas é difícil lembrar da última gargalhada que nos surpreendeu. Alguma situação que realmente foi engraçada.

Durante as últimas semanas eu me diverti. Viajei e tive momentos impagáveis. Momentos até bem pessoais, em que uma situação se mostrou tão inusitada, que no final você lembra com humor. Ou momentos em grupo, falando besteira. Mas nenhuma que me lembre me fez chorar de rir.

Tentei lembrar de outras... Peças de humor, programas de humor... Tenho visto alguns. Mas foram os últimos? E foram tão engraçados?

Muitos momentos de chorar de rir aparecem quando tenho ataque de bobeira. Sabe aqueles momentos que nem são tão engraçados, mas em que o espírito leve parece te fazer cócegas? E se estiver acompanhado de outro espírito bobo, basta que um olhe para o outro para a gargalhada continuar? Já tive ataques assim em situações sérias. É constrangedor, mas irremediável.

E foi puxando pela memória que lembrei de um dia em que o espírito leve se uniu a uma imagem. Um vídeo enviado por um amigo, o Mozart. Um vídeo engraçado, mas que teve a reação ampliada pelo espírito bobo... E não apenas pelo espírito bobo descrito acima. Pelo espírito bobo aliado ao espírito de porco que me acompanha quase diariamente, que consegue perceber detalhes e imaginar coisas.

Eis o último momento que lembro ter chorado de rir... Reparem no tigre da esquerda.



Os mais sérios podem estar pensando: 'Mas isso é um ultraje! Um idiota que estragou um ballet.' Eu já acompanhei, mesmo que amadoramente, alguns shows e espetáculos teatrais dos bastidores e sei o quanto é frustrante um erro, ou mesmo uma pessoa insatisfeita que decide esculhambar com o trabalho. Mas foi justamente pensando na insatisfação do sujeito que me escangalhei de rir...

Coloca-se uma roupa de tigre no camarada, pedindo para que ele e seus companheiros tigre e elefantes cabeçudos fiquem atrás do palco, com movimentos sutis, apenas para compor a cena. Os elefantes só conseguirão fazer os movimentos sutis, pela limitação do figurino, mas os tigres terão que se conter. Enquanto eles fazem papel de bobos, a coreografia magnífica é feita a frente. Aquilo é arte. Os animais compõem a cena, levando o espectador ao ambiente proposto. Mas são cenário...

No ensaio, tudo corre bem... Ao menos, para os dançarinos e o diretor. Chega o momento da grande apresentação e o camarada se depara com o figurino. Tigre estilizado, mas quase de festa infantil. Daí a gente pode imaginar diversas coisas... O diretor estrela deu esporro durante o ensaio, dizendo que ele não poderia sair muito do lugar, e diminuiu o cara. Ou alguma coisa aconteceu na vida dele: conseguiu outro emprego e resolveu chutar o balde. Ou é um dançarino frustrado que simplesmente viu a platéia e decidiu aparecer (mesmo sem saber dançar). Ou, o mais provável, viu a que ponto chegou na vida, encheu a cara, cheirou todas e subiu no palco doidão.

Mas o que mais me fez rir, pensando em todas essas situações, foi mesmo o improviso do tigre. Ele começa modesto. Depois segue a música e mistura indiano com chá-chá-chá. Em seguida, faz o ensaiado, bater no tamborzinho que traz a mão (notem que o outro tigre também simula tocar o tambor). Mas nada nele é normal, e ele exagera, fazendo o estilo "tapa na bunda". Voltando à personagem, ele começa a fazer movimentos bêbados e catar mosquitos pra comer. Continua sua dança exagerada e os outros começam a olhar pra ele (não apenas o outro tigre está assustado, mas a bailarina que é girada, começa a ver o drama que se passa ali atrás... afinal, os risos da platéia já começaram). Quase no final da dança, ele resolve, do nada, interagir com a cena, olha para o casal que dança e, simulando susto, sai correndo.

Os agradecimentos são o exagero total e, a meu ver, nem é o mais engraçado. Genial mesmo é a apresentação.

Bem... Eu gargalhei.
Talvez seja meu espírito sarcástico.
Mas taí uma apresentação de ballet que realmente me fez feliz.

Nenhum comentário: