segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A quem fica... (Tempo, não me deixe ser Lolita)

O fim de semana foi marcado pelo adeus a Hebe Camargo.

Fiquei sabendo da notícia meio tarde. Porque pra mim o fim de semana foi marcado por filmes e vídeos. Alienado da vida real, só me inteirei do fato na noite de sábado, ao ver uma reprise de uma antiga - bem antiga - entrevista no Roda Viva.

Alguma coisa estava errada...
Por que exibiam uma entrevista com o Paulo Francis rosado e gordo?
Por que exibiam uma entrevista com o Otávio Mesquita com pequenos indícios de cabelos brancos?
A Hebe apareceu ao centro e a ficha caiu.

No resto do fim de semana, acompanhei as notícias pelos sites.
Selinho de Sílvio Santos, choro da família, Paulo Maluf na primeira fila do velório.
Nada realmente mexeu comigo.
Nada, a não ser uma imagem.

Hebe Camargo fundou a TV brasileira.
Estava lá com Lima Duarte e Chatô (o homem, não o filme inacabado) quando tocaram o hino da TV.
Deixando de lado as ressalvas de muitos em relação à apresentadora (e relevando também a adoração desmedida de outros muitos), ela teve sua importância. Mas esta não pesou com a notícia. Na verdade, o único peso veio com a imagem da despedida emocionada de Lolita Rodrigues.

Todos já devem ter visto a famosa entrevista de Hebe, Lolita e Nair Belo no Programa do Jô (A quem não viu, acabo de saber que será reexibida hoje). É um clássico, pela descontração, pelas memórias e pela demonstração de amizade das três. Até aquele momento, não havia qualquer ponto de interseção entre as três em meu imaginário. Depois dele, não consegui mais pensar em uma sem lembrar das demais. E sem lembrar das famigeradas histórias de risos em velórios


O velório de Hebe deixa Lolita sozinha em meu imaginário.
Agora, só resta ela pra contar histórias.
E deve ser difícil ficar.

Lembrei novamente do Paulo Francis. Dos cabelos brancos e do rosto enrugado de Otávio Mesquita. Da idade em cada um que foi ao velório. Busquei o vídeo do Roda Viva na internet (porque, no fundo, mudei de canal e não dei atenção). Achei uma entrevista com Dercy Gonçalves e outra com Chico Anysio. De lá, os links me levaram para antigos quadros de humor. Quantos já morreram.

Viver é perder(-se em) referências. 

E fiquei imaginando os grupos de amigos.
Aqueles amigos com quem formamos grupos.
Aqueles grupos (ou sub-grupos) de amigos que vemos de fora, mas não pensamos em entrar. Apenas admiramos. E pensei em como se sentirá a Lolita de cada um desses grupos.
Para quem vai reclamar sobre o reumatismo ou a perda de audição?
Com quem vai dar risadas sobre a piada do último velório?
E lembrar de festas, pessoas e sentimentos passados?
Por mais que venham netos, filhos e amigos mais novos, não é a mesma coisa. Não é o mesmo elo.

Nessa hora, a gente não se preocupa em ser egoísta e dizer:
Tempo, tempo, mano velho...
Não precisa ser cedo. Não preciso ser o primeiro.
Mas, por favor, não me deixe por último.

4 comentários:

Simone Vieira disse...

Se tem alguém que será lembrado e fará parte das histórias de muitos, é você...

Flavinha Nobre disse...

Gente, que lindo!! AMEI!!

Kakau disse...

CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP... Se superando... Bjks!

Dany Braga disse...

Nossa... Que aperto no peito. Definitivamente náo quero ser a última... Lindo texto!!!